Título: Preço industrial impede queda maior da inflação no atacado
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2008, Brasil, p. A3
A queda recente nos preços de commodities agrícolas ajudou a reduzir a inflação medida pelo Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) à menor taxa desde julho de 2007. Em agosto, o índice calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) registrou alta de 0,38%, após ter subido 2% na medição anterior - queda de 1,62 ponto percentual. A desaceleração foi a maior desde janeiro de 2003, quando o indicador recuou 2,58 pontos percentuais, para 2,29%. Houve arrefecimento nos indicadores de preços do atacado, varejo e construção, mas a demora na desaceleração dos preços industriais preocupa.
No mês encerrado em 10 de agosto, o Índice de Preços por Atacado (IPA), variou 0,25% (ante 2,54% em julho). O IPA industrial subiu 1,13%, abaixo do 1,71% apurado em julho, mas ainda assim uma variação que deve ser acompanha com cautela, na avaliação do economista Gian Barbosa, da Tendências Consultoria Integrada. "A desaceleração do IPA industrial na margem foi inferior à do IGP-10 e o núcleo ainda está com um número forte", afirmou. Segundo cálculo da Tendências, o núcleo do IPA industrial, que exclui alimentos e combustíveis, passou de 1,4% em julho para 1,1% neste mês - sinal de que a desaceleração de preços ainda está bastante concentrada em commodities, salientou Barbosa. É o quinto mês consecutivo em que o núcleo do IPA industrial sobe acima de 1%. Variação semelhante só ocorreu em outubro de 2005 e em todo o ano de 2004.
Para o economista, a queda nos preços do petróleo e de commodities metálicas no mercado externo pode ser absorvida pelo mercado interno, contribuindo para suavizar as altas do IPA industrial. "Mas o efeito será limitado", diz Barbosa, que prevê para o IGP-M (que mede a inflação de 30 dias até o dia 20) deflação de 0,1% e, para o ano, alta de 12,5%, pouco abaixo dos 14,42% acumulados em 12 meses pelo IGP-10.
Para Cristiano Souza, economista do ABN Amro Real, a desaceleração do IPA industrial é lenta, mas seguirá de forma gradativa, devendo registrar variações inferiores a 1% nas próximas leituras do IGP. "A desaceleração nos preços das commodities vai ajudar a tornar a inflação brasileira mais constante, mas os números recentes não são uma prova definitiva de que o problema foi superado", ponderou. Segundo o economista, o cenário internacional ainda pode trazer surpresas aos preços de commodities agrícolas no segundo semestre. No mercado interno, os dissídios coletivos, negociados com base em uma inflação de 12 meses mais alta que no primeiro semestre, podem causar pressão nos custos industriais.
Em agosto, o IPA agrícola registrou deflação de 1,98%. Na medição anterior, o indicador havia subido 4,66%. De acordo com Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, além de produtos agrícolas e alimentos, também sofreram desaceleração produtos da siderurgia, químicos, fertilizantes e celulose. "Esses itens têm um processo de desaceleração normalmente mais lento do que os produtos agrícolas", afirmou. Para o economista, a fase de maior pressão inflacionária ficou para trás e os próximos IGPs não devem registrar altas acima de 1,5%.
Quadros observa, no entanto, que a inflação na construção civil deve se manter elevada. No mês, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) variou 1,43%, com alta de 0,77% em mão-de-obra e aceleração em materiais e serviços, que passou de 1,59% para 2,01%, resultado da alta nos preços da siderurgia, diz. "Como material de construção não concorre com importados, o repasse é direto."
No varejo, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) variou 0,36%, abaixo do 0,65% registrado em julho. Dos sete grupos que compõem o IPC, três tiveram desaceleração, com destaque para alimentação, que passou de uma alta de 1,56% para 0,13%. Flávio Serrano, economista do BES Investimento do Brasil prevê continuidade desse movimento de desaceleração, podendo o IGP-DI encerrar o mês de agosto com deflação de 0,5% a 1%.