Título: Governo fecha acordo sobre usina Jirau
Autor: Rodrigues , Azelma
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2008, Empresas, p. B7

Ministro Lobão reuniu os presidentes dos dois grupos na semana passada O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, informou ontem que conseguiu convencer os consórcios envolvidos na disputa pela usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, a negociarem um entendimento. Depois que a disputa entre os consórcios liderados pela construtora Odebrecht e a multinacional Suez esquentou a ponto de haver acusações de espionagem e consequente ameaça de o caso ir parar na Justiça, o governo federal resolveu chamar as duas partes para conversar. O ministro Lobão tinha dito que queria colocar, na mesma mesa, os presidentes dos dois grupos.

Ontem no final da tarde, sem dar muitos detalhes, o ministro disse que já tinha fechado um acordo. A declaração foi feita pouco antes de Lobão participar de uma reunião sobre política nuclear no Palácio do Planalto, que reuniu 11 ministros sob o comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo a assessoria de Lobão, o ministro informou que o entendimento foi fechado em reunião realizada na quinta-feira. Teriam participado os presidentes das Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e do grupo Suez no Brasil, Maurício Bähr.

Os conflitos entre os dois grupos começaram quando a Odebrecht, do consórcio Jirau Energia, ameaçou há cerca de um mês entrar na Justiça contra o vencedor do leilão, o consórcio Energia Sustentável do Brasil, liderado pela Suez. A base da polêmica foi o fato da Suez apresentar novo projeto movendo a área de Jirau para nove quilômetros além do local inicialmente previsto no leilão.

Em vez da Cachoeira de Jirau, originalmente indicada pelos estudos de viabilidade feitos pela Odebrecht, a Suez pretende construir a barragem na Ilha do Padre, próximo à Cachoeira do Inferno. O consórcio diz que isso permite uma economia de R$ 1 bilhão, além de minimizar impactos ambientais.

Há duas semanas, Lobão e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, já tinham também feito suas ameaças. A ministra Dilma disse quer iria transferir para a Eletrobrás a responsabilidade pelas obras de Jirau e de Santo Antônio, a primeira das usinas a ser licitada e vencida pela Odebrecht, se um processo judicial fosse levado à cabo. Mas as ameaças não surtiram efeito.

O tom das acusações subiu nos últimos dias com acusações que incluíram até espionagem industrial. A Odebrecht preparou um documento no qual rebatia os argumentos da Suez sobre as vantagens das mudanças no local e afirmava que o concorrente não conseguiria terminar a obra por falta de equipamentos. Já o grupo Suez disse que a construtora teria tido acesso a documentos sigilosos e que isso poderia configurar espionagem.

Mas agora em acordo, segundo a assessoria de Lobão, ambos os consórcios aceitaram acatar o que for decidido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que analisam a mudança proposta pela Suez. Ontem, os dois grupos não quiseram comentar o assunto. Ficou combinado com o governo na reunião que os dois consórcios não vão se pronunciar até que sejam conhecidas as avaliações do Ibama e da Aneel. (Com São Paulo e Rio)