Título: Bradesco faz acordo para lançar fundo brasileiro no Japão
Autor: Pavini , Angelo
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2008, EU & Investimentos, p. D5

Sinônimo de banco de varejo no Brasil, o Bradesco vai agora atrás de pequenos investidores no Japão. A instituição brasileira assinou ontem um acordo com o Bank of Tokyo - Mitsubishi UFJ, um dos maiores bancos do mundo, para oferecer fundos de investimento em ativos brasileiros no mercado japonês. Está acertado o lançamento de uma carteira de renda fixa com títulos do governo brasileiro no curto prazo e, mais adiante, serão estudados fundos de ações do Brasil, explica José Luiz Acar Pedro, vice-presidente do Bradesco e responsável pelo Banco Bradesco de Investimentos (BBI). "A idéia é captar US$ 1 bilhão neste primeiro fundo", diz.

Pelo acordo, a administração do fundo será feita pela Mitsubishi UFJ Asset Management (MUAM), que fará também a gestão, com a assessoria da Bradesco Asset Management (Bram). A gestora brasileira vai, inclusive, montar uma estrutura com alguns funcionários no Japão para atender os novos investidores. O fundo terá aplicação mínima de 10 mil ienes, ou US$ 1 mil, o equivalente a R$ 1,6 mil.

O fundo no Japão será o terceiro do Bradesco a oferecer aplicações no Brasil em outros países, explica Acar. Em meados do ano passado, o banco fez uma parceria com o Banchile para oferecer um fundo de ações com capital protegido no varejo chileno e que já conta com US$ 160 milhões de patrimônio. Há duas semanas, foi lançado no Chile um fundo de ações com referencial no Índice Brasil Bovespa (IBrX), que começou com US$ 5 milhões. "E há um terceiro fundo de empresas menores, ou 'small caps', que ainda está em preparação e deve sair em breve", diz Robert John Van Dijk, diretor-superintendente da Bram.

Para cuidar desses fundos e parcerias - que devem aumentar com novos distribuidores em outros países, segundo Acar -, a Bram está criando uma área internacional. "É importante conhecer a legislação de cada país na área de fundos, tributação, e o que pode ou não ser feito", lembra Acar. A área, batizada de Projetos Internacionais, ficará sob o comando de Luis Osório, que veio do banco espanhol BBVA e que traz na bagagem a experiência em mercados internacionais, afirma Van Dijk.

A equipe deverá ter quatro pessoas e quatro focos de trabalho. O primeiro, cuidar da parceria com gestores internacionais. O segundo, cuidar da criação de famílias de fundos no exterior (offshore) do Bradesco, para clientes internacionais que queiram investir no Brasil. O terceiro foco será criar fundos no Brasil para não residentes e o quarto, lançar fundos que apliquem no exterior para brasileiros.

Além da equipe no Brasil, o Bradesco conta ainda com sua rede de representantes internacionais para ampliar sua família de fundos no exterior, explica Acar. "Temos uma corretora em Nova York e abrimos outra em Londres no semestre passado para distribuir produtos de renda fixa e variável nesses países", explica o executivo. No Japão, o banco tem um escritório em parceria com o Daito Bank, que cuida das remessas de brasileiros que vivem no país. E agora, com a parceria com o Mitsubishi, a Bram terá um executivo no Japão. "Estamos também abrindo uma corretora em Hong Kong e outra em Dubai, nos Emirados Árabes", explica Acar.

Segundo ele, a estratégia é começar com um fundo de renda fixa justamente pelo cenário de instabilidade nos mercados de ações de todo o mundo. "Nesse ambiente, a renda fixa fica mais atrativa, especialmente depois que o Brasil conquistou o grau de investimento de baixo risco e por suas taxas de juros elevadas em relação a outros países", lembra Acar. Outra opção podem ser fundos de ações com capital protegido, para depois lançar carteiras de ações tradicionais. "Os fundamentos da economia brasileira são bons, as empresas são lucrativas e esta queda do mercado pode ser uma oportunidade para o investimento em ações olhando o médio prazo", diz Acar. Segundo Van Dijk, o Índice Bovespa teria um potencial de, em 12 meses, voltar para os 65 mil pontos, o que já seria um ganho expressivo.

O acordo do Bradesco reforça o forte interesse dos japoneses pelo Brasil. O HSBC tem uma carteira de ações brasileiras com US$ 1,4 bilhões e, recentemente, o UBS Pactual captou US$ 2 bilhões em fundos de renda fixa. BNP Paribas, Franklin Templeton e BNY Mellon Arx têm carteiras no Japão e o Itaú se prepara para lançar a sua.