Título: Lula desiste de subir em palanque de Lacerda em BH e tira foto com Jô
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/08/2008, Política, p. A10

Conselho reunido: presidente pede a líderes partidários que Congresso priorize fundo soberano e as reformas política e tributária O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu, diante dos presidentes e líderes de partidos aliados que com ele se reuniram ontem, que não vai a Belo Horizonte participar da campanha do candidato do PSB à prefeitura, Márcio Lacerda. Lacerda conta com o apoio do atual prefeito da capital mineira, o petista Fernando Pimentel e do governador do Estado, o tucano Aécio Neves. A aliança informal entre PSDB e PT, um dos maiores embates políticos dessa eleição municipal, foi costurada com o apoio de Lula, que chegou a dizer que iria ajudar na campanha.

Ontem, mudou de idéia. E aceitou, inclusive, tirar uma foto com a candidata do PCdoB à prefeitura de BH, Jô Morais (MG). Na verdade, foi ela quem pediu para tirar uma foto ao lado do presidente. Jô Morais, em tom de brincadeira, perguntou se o presidente, de fato, apoiava Márcio Lacerda. "O Lula disse que não se meterá em eleições onde há aliados disputando a prefeitura", acrescentou um líder aliado.

Mas o presidente voltou a repetir o que já havia dito para os ministros políticos. Quer ver os aliados usando sem parcimônia os dados e as ações do governo federal. Acha que dessa forma fica mais clara a atuação do Executivo Federal nos municípios, um dividendo político que, se bem administrado, só trará benefícios para todos os atores envolvidos, avaliou um dos participantes. Lula também repetiu que não quer vetos à utilização de sua imagem na campanha. O recado foi dado diante do petista Walter Pinheiro (BA), que entrou na Justiça em Salvador querendo impedir que o candidato à reeleição na capital baiana, o pemedebista João Henrique, use fotos do presidente em seu material de campanha.

Em relação às atividades no Parlamento, Lula pediu aos integrantes do Conselho Político um esforço maior na análise de três temas: o Fundo Soberano, a reforma política e a reforma tributária. O projeto criando o Fundo Soberano tem urgência constitucional e começa a trancar a pauta de votações a partir do dia 2 de setembro. Lula quer empenho dos aliados para que ele seja aprovado antes de obstruir os trabalhos do Congresso.

Os líderes, contudo, consideram o pedido pouco factível. Relator do projeto na Comissão de Trabalho, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) lembra que encerrou na segunda 18 o prazo de emendas ao projeto. "Teríamos 12 dias para relatar um Fundo tão complexo e importante para o país. Isso é impossível para mim e para os demais relatores na Casa", disse Jovair. Os líderes demonstraram dificuldades em entender o Fundo Soberano. Perguntaram muito ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. Uma das questões foi o pedido de esclarecimento sobre por que, se existe dinheiro para se criar um Fundo, o governo não investe mais em Educação ou no Bolsa-Família.

Mantega explicou que, se os R$ 14 bilhões do fundo forem incluídos agora na economia, haverá maior prejuízo à indústria nacional. O ministro da Fazenda disse que o consumo do país cresceu 8% neste ano e que, se o PIB cresceu 5%, o país precisa importar os 3% de defasagem. "Se houver injeção de R$ 14 bilhões na economia, haveria maior aquecimento do consumo e mais importação, o que é ruim para a indústria brasileira".

O presidente aproveitou para convidar todos os líderes e presidentes de partidos da base aliada para um evento, marcado para a próxima quinta, em Brasília, com representantes de todas as empresas que investem no Brasil. "Quero todo mundo lá", convocou. A idéia do presidente é mostrar o dinamismo da economia brasileira e como as empresas estrangeiras estão confiando nos fundamentos econômicos.

Lula também ressaltou que a intenção do governo, ao propor ao Congresso um projeto de reforma política - ou vários projetos, já que a intenção é desmembrar a proposta em seis ou sete partes - não representa uma afronta ao legislativo. Lula sabe que várias iniciativas sobre o tema tramitam no Congresso e já foi informado pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) sobre as resistências do parlamento naquilo que considera uma ingerência do Executivo. Manteve, porém, a pressão do Planalto para uma tramitação mais rápida da reforma.

A intenção é que esse assunto seja discutido, não necessariamente aprovado, ainda esse ano. A estratégia presidencial é aprovar a reforma política em 2009, último ano útil antes das eleições que definirão seu sucessor em 2010.

Lula também espera que os parlamentares aprovem o mais rápido possível a reforma tributária. Segundo o líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), o presidente e o ministro Guido Mantega apontaram que o Brasil precisa aproveitar o bom momento econômico para simplificar a legislação e os tributos.