Título: Estatizações já custaram US$ 11,6 bi à Venezuela
Autor: Uchoa , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 20/08/2008, Internacional, p. A12

As estatizações promovidas pelo presidente Hugo Chávez já custaram ao país cerca de US$ 11,6 bilhões, segundo estimativa da consultoria venezuelana Ecoanalitica. Para Asdrubal Oliveros, diretor da consultoria, essa conta é manejável, devido à receita extra com petróleo, mas deve cobrar da sociedade venezuelana um preço muito maior "quando forem necessários ajustes macroeconômico" após uma eventual queda dos preços do petróleo e após possíveis gestões menos eficientes.

Desde 2006, Chávez ordenou a estatização de empresas de telecomunicações, de eletricidade, da siderurgia e de cimento e de operações no setor de petróleo.

Oliveros critica o modelo econômico adotado por Chávez, com a estatização de empresas eficientes, em vez de usar o dinheiro para atividades que ajudem a economia a crescer. "Por que destinar US$ 1,2 bilhão para comprar um banco que já é eficiente [o Banco da Venezuela, controlado pelo espanhol Santander]? Por que não destinar esse total a outras prioridades, como saúde, infra-estrutura e seguridade social?"

O Santander vinha negociando a venda do Banco da Venezuela para um comprador privado, mas, no começo do mês, Chávez exigiu que ele fosse reestatizado.

A estimativa da Ecoanalítica pode subir, caso empresas que não aceitaram os valores oferecidos pela Venezuela por seus ativos procurem órgãos internacionais de arbitragem, como já ameaçou a cimenteira mexicana Cemex.

O governo pagou um total de US$ 819 milhões por 89% do capital da unidade no país da francesa Lafarge (US$ 267 milhões) e por 85% da unidade da suíça Holcim (US$ 552 milhões), após chegar a um acordo com as multinacionais.

Entretanto, como não alcançou um acordo com a Cemex, que pedia US$ 1,2 bilhão por sua unidade na Venezuela, o governo lançou mão da expropriação, com pagamento posterior de indenização - o valor dos ativos da empresa será calculado para que seja determinada uma compensação justa, segundo o ministro de Energia e Petróleo, Rafael Ramírez, que considerou a proposta da Cemex bem acima do razoável.

No setor siderúrgico, o governo venezuelano deve pagar US$ 1,65 bilhão por 50% da Sidor, controlada pelo grupo argentino Techint, segundo notícias veiculadas pelo jornal "Clarín", de Buenos Aires. Com isso, o grupo Techint ficará com apenas 10% da maior siderúrgica venezuelana.

O que deve pesar mais é o setor do petróleo, com as indenizações pagas às americanas Exxon e Conoco e à italiana ENI pelo controle dos projetos de exploração na Faixa do Orinoco, com mais de US$ 5 bilhões.

Mesmo assim, o estudo da Ecoanalitica não vê problemas de curto prazo para pagar por essas estatizações: "Apesar de ser um montante importante, que representa aproximadamente um terço da arrecadação extraordinária vinda do petróleo no primeiro semestre, é um total plenamente manejável pelo Executivo", diz Oliveros.

O problema seria nos médio e longo prazos: "Um Estado que aumenta tanto assim só pode significar que o ajuste macroeconômico que será necessário do futuro terá ainda maior ressonância na sociedade".

A advertência quanto a "ajustes necessários" se refere à ineficiência das estatais. A CANTV, empresa de telecomunicações estatizada no ano passado - mais de US$ 500 milhões foram pagos à americana Verizon -, não conseguiu atingir suas ambiciosas metas de aumento de assinantes e de controle dos gastos.

Para o economista Enzo del Búfalo, professor de teoria econômica na Universidade Central da Venezuela, o governo dependente do crescimento da receita com petróleo e não fez mudanças profundas no sistema econômico do país, o que significa que cedo ou tarde terá problemas. "Chávez não fez nenhuma mudança radical no modelo econômico da Venezuela, que continua sendo o de dependência da renda do petróleo, como nos últimos 50 anos. O que ele fez foi uma mudança substancial de personagens e atores, só."