Título: Preços nos EUA sobem mais apesar da desaceleração
Autor: Evans , Kelly
Fonte: Valor Econômico, 20/08/2008, Internacional, p. A12

A alta do índice de preços ao produtor dos Estados Unidos, que no mês passado teve o maior aumento em 27 anos, mostra que a inflação corre solta no país, enquanto a economia desacelera.

Muitos diretores do Federal Reserve (o banco central americano) apostam que a inflação vai moderar nos próximos meses, à medida que a economia esfrie e que o preço do petróleo se estabilize, mas eles não devem tomar nenhuma decisão baseada nessa idéia enquanto não houver evidência de estabilização sustentável dos preços. Vários economistas apostam que o Fed vai manter a meta para a taxa dos fundos federais (fed funds), a principal referência para os juros de curto prazo, inalterada em 2% pelo resto do ano.

Mas alguns dos formuladores da política monetária dos EUA continuam incomodados com a possibilidade de a alta dos preços se espalhar pela economia. Richard Fisher, presidente do Federal Reserve de Dallas, no Texas, disse ontem que as autoridades monetárias "devem continuar prontas para agir se a desaceleração do crescimento não for capaz de conter a pressão inflacionária". Fisher votou contra a maioria dos colegas nas decisões sobre juros este ano, defendendo o aumento da taxa de juros nas reuniões mais recentes do comitê de política monetária do Fed.

"Estamos correndo o risco de reforçar a disseminação das expectativas e impulsos inflacionários", disse ele. Fisher alertou que, se "o Fed não frear essas expectativas, corre o risco de perder a confiança da opinião pública na nossa capacidade de conter a inflação".

O Departamento do Trabalho dos EUA informou ontem que sua medição dos preços no atacado - baseada nos preços pagos pela indústria - registrou uma alta dessazonalizada em julho de 1,2%. O índice subiu 9,8% no acumulado de 12 meses, a maior alta anual desde junho de 1981.

"É provável que essa alta reflita o pico, uma vez que os custos de energia estão caindo agora", afirmou Peter Kretzmer, economista sênior do Bank of America. "Mas é perturbador ver altas numa base tão ampla."

Ao mesmo tempo, um relatório do Departamento do Comércio mostrou que a construção de casas novas continua a cair, o que ressalta a fraqueza da economia americana. No mês passado o número caiu 11%, para um total anualizado de 965.000, considerando ajustes sazonais. A redução também se deve ao aumento no número de unidades multirresidenciais construídas em junho em antecipação a uma mudança no código de obras da cidade de Nova York que começou a vigorar em julho.

A construção de casas novas, um indicador da saúde do mercado imobiliário que influencia diretamente o cálculo do produto interno bruto, caiu 2,9% no mês passado, para um ritmo anualizado de 641.000 unidades. A queda sugere que o mercado imobiliário fraco vai continuar a pesar no PIB, apesar de outros dados mostrarem que as vendas de casas têm se mantido estáveis nos últimos meses. Os novos pedidos de alvarás para construção de residências de uma só unidade caíram 5,2% em julho, um sinal de que a essa atividade continuará fraca enquanto os construtores tentam vender as propriedades já existentes.

Os dados mostram ainda que o núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, subiu 0,7% em julho e 3,5% nos últimos 12 meses, a maior alta em 17 anos.

A alta de preços no mês passado atingiu de alimentos a automóveis. Os preços de energia subiram, em média, 3,1%, apesar da queda de 0,2% da gasolina em julho. Embora os preços de energia devam acompanhar a queda do petróleo, uma ampla lista de produtos deve ter preços mais altos. Os bens intermediários tiveram uma alta de 2,7% no mês passado, continuando a mesma tendência observada em maio e junho.