Título: FMI alerta: Brasil deve frear
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 04/03/2011, Economia, p. 14

Diretor-gerente do Fundo Monetário pede a Dilma Rousseff que desacelere o ritmo de expansão a fim de evitar descontrole inflacionário O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Srauss-Kahn, elogiou o salto de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, anunciado ontem, a maior taxa de crescimento dos últimos 24 anos. No entanto, fez um sério alerta sobre os riscos do superaquecimento da economia, em especial a inflação. Em passagem rápida por Brasília, o principal executivo do Fundo pediu à presidente Dilma Rousseff que o Brasil cresça mais devagar para evitar o descontrole dos preços e a formação de bolhas mais à frente. ¿É chegado o momento de desacelerar a economia¿, disse.

As medidas adotadas pela equipe econômica para conter o crescimento acelerado, como o corte de despesas no valor de R$ 50 bilhões e o aumento da taxa básica de juros para 11,75%, agradaram ao principal executivo do Fundo. ¿As iniciativas para reduzir o orçamento e as adotadas pelo Banco Central são muito bem-vindas. Elas estão na direção certa para evitar o superaquecimento da economia¿, disse. Segundo ele, a curto prazo, será importante uma combinação adequada de políticas para conter as pressões inflacionárias.

¿Muitos riscos, agora, vêm do norte da África. As pessoas lá brigam por liberdade, mas também existe preocupação com a alta do petróleo, que pode afetar a retomada do crescimento da economia global¿, afirmou. Strauss-Kahn destacou que a recuperação, depois da crise global de 2008, ocorre de forma acelerada nos países da Ásia e da América Latina, principalmente o Brasil. Já os Estados Unidos e a Europa avançam mais lentamente, patinando com frequência.

Strauss-Kahn encerrou ontem, na capital federal, uma viagem a três países latino-americanos, após passar por Panamá e Uruguai. Antes de falar com Dilma, o economista se reuniu com o presidente do BC, Alexandre Tombini, e com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ao deixar o Palácio do Planalto, disse que ficou feliz em ver que Dilma compartilha das suas opiniões e preocupações.

Papéis trocados O chefe do FMI veio ao Brasil em um momento de inversão dos papéis de credor e devedor. Hoje, o país não deve mais ao Fundo e até empresta dinheiro para o organismo multilateral. Ele aproveitou a visita para ressaltar o aumento da participação dos países emergentes nos rumos da instituição. A reforma do Fundo, iniciada em 2008, começa a ser concretizada. ¿Hoje o Brasil está entre os 10 maiores acionistas, ao lado dos Estados Unidos, do Japão, das quatro maiores economias europeias e dos outros Brics (grupo de países composto por Brasil, Rússia, Índia e China)¿, disse.

Cotado para concorrer à Presidência da França em 2012, Strauss-Kahn também destacou a importância brasileira nas discussões do G-20 (grupo das 19 maiores economias do mundo e a União Europeia). ¿O Brasil é uma nova potência e os países emergentes têm mais voz e representação no FMI. Não somos mais o Fundo que somente representava os países ricos¿, comentou.

Recomendações O FMI está mudando alguns rumos administrativos, mas não perde o hábito de tentar ditar os rumos da política econômica, em especial nos países emergentes. Mesmo depois de ter errado feio ao não advertir os governos de que o mundo caminhava para o desastre em 2008, o diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, fez recomendações ao Brasil: reforma tributária e na Previdência Social, menor rigidez orçamentária e melhora no ambiente de negócios. Assim, ele acredita que o país poderá ampliar os investimentos, incentivar a poupança privada e assegurar a sustentabilidade do crescimento.

Risco para os pobres O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta para os malefícios da inflação, sobretudo para os cidadãos mais pobres. ¿Estamos extremamente preocupados com o aumento do preço dos alimentos, por conta de seu impacto nos mais vulneráveis, particularmente em países subdesenvolvidos, mas não apenas neles¿, informou ontem a porta-voz do fundo, Caroline Atkinson.

Além da disparada nas commodities agrícolas, Atkinson apontou rápido aumento da inflação em economias emergentes. Algumas dessas estariam ¿chegando ao ponto de potencial sobreaquecimento¿ e, portanto, os bancos centrais ¿começaram, apropriadamente, a apertar sua política monetária¿. Ela citou, especialmente, o caso do Brasil, que subiu a taxa básica de juros (Selic) na quarta-feira. O Banco Central (BC) a elevou em 0,5 ponto percentual, de 11,25% para 11,75%.

Proteção Atkinson enfatizou a importância de mecanismos ¿certeiros¿ para apoiar a população mais exposta ao risco. ¿É importante que haja medidas de proteção para essas pessoas, mais do que subsídios a produtos¿, disse. Para as economias avançadas, o aumento dos preços do petróleo representam um desafio, acrescenta Atkinson. ¿Há uma incerteza tremenda¿, resumiu.

Em resposta à questão sobre riscos inflacionários nos Estados Unidos, Caroline Atkinson citou os recentes esforços do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) para limitar os riscos de deflação, enquanto a economia luta para se recuperar da recessão. ¿Inflação não é uma preocupação para a economia norte-americana¿, disse.