Título: Jamais Gilberto Carvalho fez qualquer contato comigo, diz Lacerda
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2008, Política, p. A6

Lula Marques / Folha Imagem Paulo Lacerda: diretor da Abin atribui acusações de Dantas ao 'brilhantismo' de sua equipe de advogados O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, descreveu ontem como o chefe-de-gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, se movimentou nos bastidores para tentar conseguir informações sobre a Operação Satiagraha, da Polícia Federal. O petista teria agido a pedido do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), advogado do banqueiro Daniel Dantas, um dos principais investigados pela PF.

Lacerda prestou depoimento à CPI das Escutas Telefônicas Ilegais da Câmara dos Deputados. Escuta telefônica feita pelos agentes federais captaram conversa de Carvalho com Greenhalgh na qual o ex-deputado pede explicações ao chefe-de-gabinete e denuncia que agentes da Abin foram flagrados seguindo seu cliente, que temeu estar sendo vítima de campana de seqüestradores.

Segundo Lacerda, em março ou abril deste ano, Carvalho procurou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência para ter informações sobre uma possível perseguição que havia sido feita no Rio de Janeiro por um agente da Abin. O perseguido, na ocasião, era Humberto Braz, ex-presidente da Brasil Telecom e braço-direito de Daniel Dantas, cliente de Greenhalgh.

Na versão do diretor-geral da Abin, Carvalho procurou o secretário-executivo do GSI, José Roberto de Oliveira, para ter informações sobre o assunto. Oliveira, então, entrou em contato com a Abin para saber se, de fato, um agente da Abin investigava Humberto Braz.

"Houve o contato do secretário Gilberto Carvalho, que ligou para o GSI, e falou com o secretário-executivo. O general Oliveira ligou para a Abin e falou com o diretor adjunto, meu substituto, José Milton Campana", revelou Lacerda. As informações só não foram repassadas a Greenhalgh e colocaram a operação a perder porque a Abin repassou informações truncadas ao GSI. "Campana ligou para o Rio de Janeiro e teve a informação de que, na verdade, era acompanhamento de alvo estrangeiro em situação irregular. Essa foi a informação. Era uma história de cobertura", informou Lacerda, em código.

Por "história de cobertura" entende-se uma versão distinta da real para evitar que vazamentos prejudiquem as investigações da Abin e da PF.

Mesmo diante dessa afirmação, Lacerda negou qualquer interferência de Carvalho em ações da Abin ou da PF. "Ele não me ligou, não tive contato com ele. Para ser justo e coerente com a verdade, nos quatro anos e oito meses de PF e agora há quase um ano de Abin, jamais o secretário Gilberto Carvalho fez qualquer contato comigo. Seria uma leviandade da minha parte se afirmasse qualquer coisa em contrário", afirmou.

O diretor-geral da Abin confirmou a informação de que integrantes da agência colaboraram com a PF na Operação Satiagraha, como revelou o delegado responsável pelas investigações, Protógenes Queiroz. "Há um entendimento equivocado de alguns no sentido de que servidores da Abin não estariam legitimados a cooperar com outros órgãos em suas áreas", afirmou. "A participação dos agentes da Abin ocorreu por iniciativa do Protógenes, que solicitou auxílio de alguns oficiais da Abin", afirmou.

Segundo ele, um oficial da Abin foi encarregado de fazer o elo entre a agência e a polícia. "A Abin não realizou atividades para as quais não possua prerrogativas pela legislação em vigor. É absurdo pensar que a agência tenha feito monitoramentos de qualquer natureza em locais públicos ou privados", afirmou.

Aliás, em diversos momentos, Lacerda negou que a Abin tenha feito ou faça escutas. "A questão crucial é que a Abin não participou de monitoramento telefônico. Isso, nós vamos repetir tantas vezes quantas forem necessárias", afirmou.

Sobre as acusações de Dantas de que estaria sendo perseguido por Lacerda, o diretor-geral da Abin afirmou que trata-se de "uma tese de brilhantes advogados que ele tem e a única justificativa é a tática de mudar o foco das apurações", afirmou. "Ninguém discute questões de mérito da investigação. Estamos discutindo os investigadores. Parabéns aos advogados que o orientam nesse sentido. Mas não tenho nada contra nem a favor a ele", concluiu.