Título: Crescimento sustentável
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 04/03/2011, Economia, p. 16

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ¿ soma de todas as riquezas produzidas no país ¿ atingiu um crescimento de 7,5% em 2010, na comparação com 2009. A ótima notícia, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirma anúncios feitos pelo governo anterior e previsões de analistas do mercado. É a maior alta em 24 anos, quando o Plano Cruzado estava sendo lançado. No cenário internacional, de acordo com o próprio IBGE, o crescimento do Brasil ficou atrás apenas do registrado na China (10,3%) e na Índia (8,6%).

A forte alta no PIB era esperada diante do fraco desempenho em 2009 (contração de 0,6%), e das medidas acertadas que o governo tomou para reduzir o impacto da crise internacional no país. Como resultado de políticas de estímulo ao crédito, redução de tributos e incentivo ao consumo, os setores de agricultura, serviços e indústria conseguiram superar a turbulência sem grandes perdas ¿ o segmento industrial, o que mais sofreu, foi, em compensação, aquele cujo PIB mais cresceu em 2010 (10,1%).

O desempenho excepcional da economia no ano passado nos remete, porém, a uma reflexão sobre decisões difíceis, embora cruciais, para evitar que a inflação volte a atemorizar a população. À disparada do consumo em 2010 se seguiram ações como a elevação da taxa básica de juros, restrições ao crédito e um corte do orçamento federal da ordem de R$ 50 bilhões. A prudência é bem-vinda. Basta recordar que, após o PIB de também 7,5% em 1986, o Brasil afundou em um período de hiperinflação que minou os governos Sarney e Collor, e só começou a ser superado na gestão de Itamar Franco.

No último trimestre de 2010, o componente da demanda interna que teve um crescimento destacado foi exatamente a despesa de consumo das famílias, com evolução de 2,5%. Consequentemente, pela primeira vez a geração pós-1995 tem notícias preocupantes sobre o risco de aumento desenfreado dos preços. Seguindo a consolidada fórmula segundo a qual juros altos equivalem a inflação sob controle, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,75% ao ano.

A experiência recente demonstra que a economia brasileira ainda não conquistou o tão propalado crescimento sustentável. Para este ano, as estimativas são de que a alta do PIB se situe entre 3,5% e 4,5%. Passada a euforia pelo retrospecto de 2010, chega a hora de se debater a fundo os gargalos do crescimento. Afinal, sem que as indústrias contem com infraestrutura suficiente para escoar produção; sem que tenham competitividade no mercado externo, por conta da valorização do real; sem que uma reforma tributária seja aprovada no Congresso e entraves burocráticos ao surgimento de empresas desapareçam, permaneceremos observando altos e baixos na série histórica de nosso PIB.