Título: Arcelor aplica US$ 1,8 bi em minério no país
Autor: Jorge, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2008, Empresa, p. B6

O grupo ArcelorMittal, maior produtor de aço do mundo, investirá US$ 1,8 bilhão no Brasil para reforçar a sua posição em minério de ferro, buscando, com isso, assegurar parte do suprimento de sua principal matéria prima. Uma fatia de US$ 850 milhões está sendo desembolsada agora na aquisição das jazidas pertencentes à London Mining, localizadas em Itatiaiuçu (MG), e na compra de uma ampla área portuária em Mangaratiba (RJ). O restante dos recursos vai sustentar a expansão futura da mina e a instalação de um terminal de exportação dimensionado, inicialmente, para cerca de 10 milhões de toneladas ao ano.

"O interesse é constituir uma posição segura para a produção de aço, abastecendo nossas usinas da Europa, e vender eventualmente no mercado", afirmou Rony Stefano, diretor de fusões e aquisições do grupo para América Latina. A compra da London Mining, anunciada ontem, somou US$ 810 milhões - considerando US$ 46 milhões em dívidas assumidas na transação. Com produção prevista para este ano de 3,8 milhões de toneladas, a mina receberá aporte de US$ 700 milhões nos próximos três anos para alcançar o volume de 10 milhões de toneladas anuais.

O preço pago pela ArcelorMittal foi nove vezes superior ao valor de US$ 89 milhões que a London Mining desembolsou em maio de 2007 para assumir o controle das jazidas da mineradora Itatiaiuçu. "Desde aquela época, o preço do minério de ferro aumentou 65%. Além disso, a London Mining investiu em pesquisas, identificando reservas bem superiores às previstas inicialmente, que passaram de 260 milhões para 1,059 bilhão de toneladas", disse Stefano.

O plano da ArcelorMittal é exportar praticamente toda a produção extraída na região de Serra Azul, podendo destinar parte ao suprimento da usina do grupo em Juiz de Fora. Para amparar os embarques ao exterior, a siderúrgica comprou, por US$ 40,5 milhões, 80% da área portuária pertencente à canadense Adriana Resources no Estado do Rio de Janeiro. Adquiriu, ainda, 19,9% do capital da Adriana Resources, o que lhe dará 84% do controle do projeto portuário a ser desenvolvido em área de 857,5 mil metros quadrados.

A expectativa da siderúrgica é começar a construção do terminal portuário no fim do ano e exigirá investimento de US$ 250 milhões. A previsão é colocar o porto em funcionamento 24 meses depois, com capacidade de 10 milhões de toneladas anuais.

Mas colocar o porto em operação em Mangaratiba não será tão simples. O projeto do terminal portuário teve parecer técnico e jurídico da FEEMA contrário, principalmente por envolver construção em área de proteção ambiental. Cabe recurso e, nesse caso, ele será encaminhado pelo órgão ambiental do Estado do Rio à Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA), da Secretaria de Meio Ambiente. O projeto prevê capacidade inicial de embarque de cinco milhões de toneladas de minério de ferro ao ano, podendo chegar a 50 milhões de toneladas anuais.

O volume de embarque de 10 milhões de toneladas por ano, no entanto, vai aumentar, porque os planos da ArcelorMittal contemplam não apenas a produção de Itatiaiuçu, mas também as jazidas da Pirâmide (Corumbá), da qual o grupo detém 49%, e as da Andrade - mina do grupo localizada próxima a Itabira (MG) e arrendada atualmente à Companhia Vale do Rio Doce.

A Pirâmide passa por levantamento geológico, mas no padrão atual sua produção sairá de 600 mil para 1,2 milhão de toneladas em 2009. A Andrade, por sua vez, terá a capacidade ampliada de 1,4 milhão para 5,6 milhões toneladas em dois anos. Com esses projetos, a ArcelorMittal vai extrair em suas minas brasileiras pelo menos 16,8 milhões de toneladas por volta de 2010.

"Nossa meta é ter 75% de nossa demanda global de ferro abastecida por minas próprias", afirmou Stefano. O grupo consome atualmente 70 milhões de toneladas anuais, das quais 50 milhões são supridas por minas próprias, o que representa cerca de 71%. (Colaborou Vera Saavedra Durão, do Rio)