Título: Carteiras com garantia de principal atraem R$ 2,5 bi
Autor: Cotias, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2008, Eu & Investimento, p. D2

Ganhar com a alta da bolsa sem correr o risco de perder o principal investido foi o mote que fez os fundos de capital protegido se multiplicarem no mercado brasileiro. Só neste ano, esses portfólios atraíram R$ 2,531 bilhões, segundo levantamento do site financeiro Fortuna. São cerca de 30 mil cotistas, com um tíquete médio de R$ 80 mil, apesar de já haver opções para o varejo. Só que na hora de entregar resultados, o que se nota é que o aplicador ganharia mais se simplesmente seguisse o que reza a teoria de carteiras eficientes e diversificasse seus investimentos. Em 12 meses (até o dia 15), esses fundos renderam, na média, 7,29%, ante 11,34% do CDI ou os 10,06% do Ibovespa. Os fundos balanceados, que contemplam parcelas de ações, tiveram retorno de 9,19% no mesmo período.

"O grande apelo dos fundos de capital protegido acaba sendo o fator sorte", diz Marcelo D'Agosto, diretor do Fortuna. "É a cultura da renda fixa do brasileiro, de querer ganhar mais do que o CDI, sem correr risco." As carteiras são montadas com operações estruturadas, geralmente combinando-se opções de Ibovespa ou de ações. Os modelos mais simplificados garantem a rentabilidade integral da bolsa até determinado percentual. Quando bate na barreira, o investimento se transforma em renda fixa, numa taxa prefixada conhecida normalmente quando termina o período de captação. Durante o prazo da carteira, de 12 até 24 meses, o fundo fica fechado para saques ou novas aplicações. E se nesse intervalo o Ibovespa só andar para trás, o aplicador tem o conforto de levar para casa o principal.

Os fundos de capital protegido foram criados para atrair quem começa a flertar com a renda variável, é um primeiro passo para conhecer o risco bolsa, diz Leonardo Calixto, da HSBC Investments, que já rodou seis edições do multimercado Smart e tem uma nova programada para outubro. Com o tempo, esses portfólios passaram a instigar também quem queria ampliar a exposição no mercado acionário, mas temia uma virada. Só que com os bancos estimulando a venda de CDB para dar conta da expansão do crédito, a renda fixa tradicional entrou no páreo. Para manter a atratividade dos multimercados de capital protegido, o retorno prefixado, agora, tem de ser maior. No Smart 6, foi de 25%.

Em dois anos ofertando carteiras do gênero, o HSBC captou R$ 700 milhões. Três portfólios tiveram o gatilho de renda fixa acionado. "O investidor tem de partir da premissa da proteção do capital, mas ficar ciente de que isso tem um custo", afirma Calixto. "Não pode ter a visão de que vai achar pouco ganhar 20% se o Ibovespa bater 40%, daí é melhor correr o risco limpo de bolsa."

Os portfólios de capital protegido acabam atraindo o perfil ultraconservador, que tem tanto medo de perder que acaba abrindo mão de parte do retorno, diz o professor de Finanças da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), André Oda. "O investidor tem de olhar o quanto deixou de ganhar, porque quando a aplicação vira renda fixa e ele não tem mais 100% da bolsa, deixar, por exemplo, 30% como 'taxa de performance' é um custo muito alto."

É nos momentos de maior instabilidade da bolsa que essas carteiras costumam ser valorizadas, mas elas têm certas limitações, afirma o diretor de fundos de investimentos do Itaú, Moacyr Castanho. No banco, os portfólios vinham sendo desenhados para o investidor qualificado, com pelo menos R$ 300 mil para aplicar. Mas no lapso entre o início da oferta das cotas e a data de contratação das opções que converteriam o fundo em renda fixa mostrou-se um problema para a gestão. "Era necessário dar para o cliente uma idéia de rentabilidade, o parâmetro que o fundo ia seguir e isso tudo um mês antes de efetivamente fechar a operação", diz. "As condições de mercado eram então totalmente diferentes."

Para ter maior flexibilidade, a instituição passou a oferecer operações de capital garantido, fora da estrutura de condomínio de um fundo de investimento. Trata-se de um produto de tesouraria, cotado diariamente, disponível para aplicações a partir de R$ 25 mil pelo prazo de um ano. Os ganhos em bolsa são limitados a 25%. No BolsaMais, outro produto que entrou no escopo de alternativas do Itaú, o aplicador tem também a garantia de um retorno mínimo de 50% do CDI caso a bolsa decepcione.