Título: Norueguesa Statoil vê dificuldades para comprar equipamentos no Brasil
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2008, Brasil, p. A5
O interesse de empresas multinacionais de petróleo em desenvolver fornecedores no Brasil esbarra em falta de competitividade de empresas nacionais e, principalmente, no esgotamento da capacidade produtiva do país, diz o vice-presidente da norueguesa StatoilHydro no Brasil, Harald Eliassen. A empresa, detentora de 11 licenças de exploração de campos de petróleo, na maioria associada à Petrobras, vai explorar sozinha o campo de Peregrino, no sul da bacia de Campos, do qual pretende extrair 100 mil barris de óleo pesado por dia, a partir de 2010.
"Queremos fazer mais equipamentos no Brasil, nosso objetivo seria fazer tudo no país, se fosse competitivo, mas não é", diz Eliassen. As grandes encomendas de equipamentos pela Petrobras e a carência de fornecedores no país, somada à alta demanda internacional na indústria de petróleo, dificultam a contratação de material no Brasil. Já a mão-de-obra brasileira é considerada pelos noruegueses de excelente qualidade. "Pretendemos treinar nosso funcionários no Brasil para atuar em nossas operações em outros países", diz ele. A StatoilHydro tem 40 empregados em seu escritório, no Rio, e contratará mais 80 para a operação de Peregrino.
Executivos nascidos no país que o governo brasileiro quer adotar como modelo na exploração de petróleo, Eliassen e o vice-presidente da StatoilHydro para parcerias internacionais, Rolf Magne Larsen, são unânimes em elogiar a "transparência" do modelo brasileiro de leilões de concessão, que consideram única no mundo.
Larsen diz ter ficado agradavelmente surpreso com a quantidade de informações divulgadas após a primeira disputa em que a empresa entrou para operação de poços nas águas brasileiras. Diz não ser possível escolher entre os dois modelos, ambos com características ligadas ao contexto dos países que os adotam. "Não sabemos qual será o sistema no Brasil, porque virão mudanças, mas acreditamos que ainda será um sistema montado para atrair investidores internacionais", comenta, otimista, o executivo, que vê na Petrobras uma garantia de estabilidade de regras. "A Petrobras continuará tendo uma maneira previsível de atuar, Se vamos à Venezuela ou a outros países, as estatais não têm essa previsibilidade", compara.
Em países como a Venezuela, o uso das receitas das estatais como fonte para despesas correntes no orçamento fiscal cria imprevisibilidade, e nem sempre é sustentável, na avaliação de Larsen. A StatoilHydro, que extrai óleo pesado da Venezuela, decidiu, porém, continuar investindo no país vizinho, apesar da forte nacionalização do setor de petróleo venezuelano, por acreditar que será recompensada pelo governo Hugo Chávez com acesso a novos projetos de petróleo no país.
Larsen critica a mudança de regras na exploração de petróleo, mas confessa que considera "compreensível" que os governos alterem regras para aproveitar a extraordinária alta nos preços internacionais do petróleo. Se as empresas têm alterada sua previsão de receitas, mas concluem que essa mudança apenas trouxe os ganhos da companhia aos níveis planejados anteriormente, têm de reconhecer que o que aconteceu foi uma "mudança dramática" nas condições do mercado, admite o executivo.
Uma das razões para o êxito da Noruega como produtor de petróleo e de bens de alta tecnologia ligados à indústria, porém, está em evitar mudanças "radicais" de direção em seu modelo, conta Eliassen, segundo homem da StatoilHydro no Brasil, onde a empresa é presidida por Jorge Camargo, um ex-executivo da Petrobras.
Como compara Eliassen, o modelo norueguês para a exploração do petróleo, feito inteiramente pelo governo, sem leilão, com base em critérios técnicos, se assemelha a um "concurso de beleza", em que são escolhidas as empresas com maior capacidade de impressionar os especialistas do Estado. No passado, entre os itens verificados estava a capacidade de a empresa apoiar e desenvolver fornecedores instalados no país - prática que, garante, a StatoilHydro está empenhada em adotar no Brasil.
Na compra de plataformas, a companhia norueguesa diz ter constatado que, no Brasil, ninguém fabrica o equipamento desde o projeto inicial. Na competição aberta para encontrar fornecedor, o concorrente brasileiro apresentou um orçamento duas vezes mais caro que as empresas internacionais. "Fomos ao fornecedor, tentamos trabalhar juntos, investigar, comparar com os licitantes bem-sucedidos para orientá-lo sobre como se tornar competitivo da próxima vez", relata Eliassen. Os noruegueses constataram que um dos componentes da estrutura das plataformas era o responsável pelo alto preço, e agora discutem com o fornecedor desses componentes como reduzir custos.
Esse modelo foi aplicado com sucesso na Rússia e pode ser reproduzido no país, diz o executivo. No campo de Peregrino, a companhia espera poder recuperar 20% das reservas comprovadas de petróleo ultra-pesado, o dobro do estimado inicialmente. Para isso, espera aproveitar a capacidade técnica adquirida com a cooperação entre a StatoilHydro, antes estatal, e as companhias privadas que sempre atuaram na Noruega. No Brasil, nem custo de mão-de-obra nem logística são problemas para os investidores, que, sofrem, porém, com o pesado e complexo sistema tributário, diz Eliassen.
O repórter viajou a convite do governo da Noruega