Título: Trem é opção para o Entorno
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 04/03/2011, Cidades, p. 28

GDF negocia com o governo federal autorização para que a linha férrea de cargas que liga a capital a Luziânia conduza, também, passageiros. Segundo o Executivo local, o projeto pode atender demanda diária de 300 mil pessoas que vivem na região

Ganhou fôlego no governo Agnelo Queiroz a ideia de adaptar a ferrovia de cargas que liga o Distrito Federal a Luziânia (GO) como meio de transporte de passageiros para o Entorno. Por enquanto, o assunto é tratado apenas em gabinetes, mas está em avançado estágio de negociação com o Ministério dos Transportes. Pelo projeto em estudo, moradores de municípios vizinhos como Valparaíso e Cidade Ocidental poderão vir à capital do país trabalhar de trem. Com percurso aproximado de 90 quilômetros, a linha sai da Rodoferroviária de Brasília e, até cruzar os limites de Goiás, passa pelos seguintes locais: Setor de Indústrias Gráficas, Guará, Núcleo Bandeirante, Park Way e Santa Maria.

O governador do DF está animado com a possibilidade de tirar do papel um assunto que, volta e meia, retorna ao debate como solução para o caótico problema de trânsito em rodovias como a BR-020 e de dificuldades de transporte entre o Entorno e o centro de Brasília. A proposta não é nova. Um de seus principais idealizadores é o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO). Ele relançou o tema na primeira vez em que comandou o estado vizinho, entre 2002 e 2006. Em setembro de 2009, como senador, voltou a incentivar a adoção dessa solução em reunião com o então governador do DF José Roberto Arruda (à época no DEM).

Assim que assumiu o governo, Agnelo se encantou pelo projeto e incumbiu o secretário de Obras, Luiz Pitiman, a cuidar do assunto. Ele participou de várias reuniões no Ministério dos Transportes e aposta na viabilidade da ideia. No trajeto da linha férrea, está concentrada uma demanda de cerca de 300 mil passageiros, segundo dados do GDF. A malha ferroviária que já pertenceu à extinta Rede Ferroviária Federal S.A.( RFFSA) é explorada desde 1996 pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), controlada pela Vale, que detém 99,9% das ações da empresa. O contrato, que é de 30 anos, prorrogáveis por igual período, permite o uso misto, ou seja, de cargas e passageiros.

O modelo de exploração ainda não foi definido, mas pode ser feito por meio de uma nova concessão ou pelo poder público. A decisão depende de um longo debate. Pitiman, no entanto, avalia que tudo será resolvido em um ano e meio. Ele acredita que o aproveitamento de trilhos que já existem, sem a necessidade de desapropriação de áreas e de licenças ambientais, poderá viabilizar o empreendimento.

Doação Durante as tratativas com o Ministério dos Transportes, Agnelo soube que o Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes mantém parados no pátio ferroviário de Rio Claro, a 172km da capital de São Paulo, dois veículos leves sobre trilhos (VLTs). Cada carro é composto por seis locomotivas, com capacidade para transportar 320 passageiros cada. Esses vagões estão abandonados desde 1997, quando foi encerrada uma experiência frustrada de VLT em Campinas.

O governador Agnelo encaminhou na semana passada um ofício ao ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, pedindo que os tais veículos sejam doados ao DF. ¿Essa parceria contribuirá significativamente para a solução dos diversos conflitos encontrados por esta gestão, com benefício da sociedade brasiliense¿, afirmou no ofício. A expectativa é de que a resposta seja positiva. O projeto tem sido visto com bons olhos pelo governo federal. Em reuniões com representantes do DF, a direção do Ministério dos Transportes sinaliza com o apoio. Tanto é que, a próxima etapa, contratação de empresa que ficará responsável pelo projeto básico do empreendimento, será feita em parceria entre GDF e o ministério. No momento, o órgão encomendou um estudo de viabilidade que vai apontar necessidade de investimentos, demandas e tarifas.

O secretário nacional de Desenvolvimento do Centro-Oeste do Ministério da Integração Nacional, Marcelo Dourado, é outro defensor do projeto. Na última terça-feira, ele fez um sobrevoo por todo o trajeto. A avaliação é de que a proposta é viável e pode beneficiar até 300 mil pessoas diariamente. ¿Acho que a coisa mais importante é que haja vontade política de todos os atores envolvidos, do governador do DF, do de Goiás e do governo federal. Com isso, as condições serão criadas¿, analisa Dourado. ¿Acredito que essas condições políticas já existem¿, acrescenta.

Levantamento Apenas com um estudo de viabilidade será possível tirar uma conclusão sobre o custo-benefício do empreendimento. Entre as despesas com obras, haverá necessidade de construir estações de embarque e desembarque. Hoje, os responsáveis pelo projeto trabalham com um relatório otimista, preparado há 20 anos, pela empresa de consultoria Serviços Técnicos de Engenharia S/A, numa outra realidade populacional e de infraestrutura no Distrito Federal.