Título: Banco japonês mais agressivo no crédito
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2008, Finanças, p. C1

Eles ganham espaço crescente no crédito bilateral e são presença garantida nos mais recentes empréstimos sindicalizados - com a participação de vários bancos - a instituições financeiras e empresas brasileiras. Sem grandes exposições às hipotecas americanas e a produtos de renda fixa vinculados, os japoneses Sumitomo, Banco de Tóquio Mitsubishi e Mizuho continuam com custos de captação bem mais baixos do que seus congêneres americanos e europeus e têm oferecido linhas externas com prêmios de risco imbatíveis.

Os bancos do país do sol nascente participam de empréstimo de US$ 400 milhões que o Itaú BBA acaba de tomar. Estão presentes também na transação de US$ 175 milhões para o Unibanco. Chegaram até mesmo a liderar empréstimo de US$ 400 milhões à Usiminas. Nesses três empréstimos, que acabam de ser concluídos, nenhum banco americano participou. Considerando-se essas três operações já fechadas e dois empréstimos em andamento, da TAM e do Bertin, há US$ 2 bilhões em empréstimos sindicalizados no forno.

No ano, até então, haviam sido fechados um total de US$ 5 bilhões. Os japoneses já estavam presentes no empréstimo que totalizou US$ 600 milhões da Eletrobrás, recentemente anunciado pela empresa. "Enquanto inúmeros bancos tradicionais no crédito ao Brasil estão se recolhendo por causa da crise externa, os japoneses estão agressivos e têm ganhado mercado", diz Paulo César Souza, diretor comercial do Société Générale, agente administrativo e de documentação na operação do Unibanco. "Para muitos bancos há uma crise e para outros, uma oportunidade", comenta Souza.

"Bancos da Ásia com grande exposição na Índia e Rússia estão oferecendo crédito ao Brasil na busca de diversificação de portfólio, agora que o país virou grau de investimento", revela Ernesto Meyer, coordenador de financiamento para aquisições e operações sindicalizadas para a América Latina do francês BNP Paribas, que liderou, junto com o Unicredit, a transação para o Itaú BBA.

Meyer e Souza lembram que, apesar de alguns bancos asiáticos e europeus estarem iniciando suas relações com o Brasil ou até ampliado seus limites ao país, a disponibilidade de crédito externo ao Brasil está se retraindo mês a mês. "O medo da inadimplência crescente tem provocado uma busca pela qualidade dos bancos - todos querem emprestar só para os melhores créditos", diz Meyer.

O empréstimo para a Usiminas foi ilustrativo do novo ambiente. A empresa anunciou em meados de julho que iria iniciar operação de empréstimo guarda-chuva com o Banco Interamericano de Desenvolvimento de US$ 400 milhões. Chamou os bancos para ver quem fazia a melhor proposta para liderar a distribuição do empréstimo. O japonês Mizuho levou a transação com um prêmio de risco completamente fora do mercado: deu garantia firme à empresa de uma linha pelo prazo de sete anos ao custo de Libor, a taxa interbancária de Londres, mais 75 pontos básicos. Para se ter uma idéia, a Eletrobrás pagou o dobro - 150 pontos básicos - pelo mesmo prazo de sete anos em empréstimo com a mesma estrutura guarda-chuva com a participação da CAF (Cooperação Andina de Fomento) no valor total de US$ 600 milhões.

A Gerdau também não teve a mesma sorte da Usiminas. A empresa está no mercado com operação de US$ 200 milhões, um outro empréstimo sob o guarda-chuva do BID, mas teve de aceitar o aumento do prêmio de risco a ser pago pelo prazo de sete anos de 137,5 pontos básicos para 150 pontos básicos. No contrato feito com o líder da operação, o Citi, há a cláusula de "market flex", que permite alterações de taxas no caso de piora do mercado. Foi o que aconteceu neste mês.

Por meio da estrutura de empréstimo guarda-chuva, o chamado empréstimo A/B, a agência multilateral entra diretamente com uma parte do crédito, no chamado empréstimo A, e os bancos internacionais com o restante, no chamado empréstimo B. Mas o organismo multilateral aparece como credor oficial de toda a operação. Como é credor preferencial, o primeiro a receber no caso de uma moratória, reduz o risco do empréstimo para os bancos participantes.

Segundo o mercado, o frigorífico Bertin também planeja levantar um total de US$ 250 milhões a US$ 375 milhões por meio de uma estrutura guarda-chuva para investimento. As negociações com as agências multilaterais continuam em andamento, dizem os bancos. Há uma outra transação de crédito de US$ 600 milhões para a TAM, com a participação do Calyon, Natixis e Société Générale, para leasing de aviões com o prazo de vencimento total de 12 anos.