Título: Déficit em conta corrente chega a US$ 19,5 bi, mas BC vê acomodação
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2008, Finanças, p. C2

O déficit em conta corrente chegou a US$ 19,512 bilhões no período de janeiro a julho, cifra que representa 93% dos US$ 21 bilhões esperados pelo Banco Central para este ano. A autoridade monetária admite a possibilidade de o resultado superar as expectativas, mas pondera que surgiram os primeiros sinais de acomodação do déficit externo.

Para agosto, a projeção oficial é um déficit em conta corrente de US$ 1 bilhão, abaixo dos US$ 2,111 bilhões observados em julho, que, por sua vez, já representaram uma melhora em relação à média mensal de déficits de R$ 2,9 bilhões ocorrida no primeiro semestre.

Até julho, segundo o BC, houve uma série de fatores extraordinários que contribuíram para que o resultado fosse mais negativo que o esperado. Greves na Receita Federal e protestos que paralisaram ferrovias no Brasil e rodovias na Argentina puxaram para baixo o saldo comercial. A crise internacional fez com que filias de empresas estrangeiras, sobretudo nos setores automobilístico e financeiro, remetessem mais lucros e dividendos para compensar perdas das matrizes sediadas no exterior.

"A balança comercial começa a exibir um desempenho um pouco mais favorável", afirma o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. O saldo comercial de julho foi de US$ 3,303 bilhões, acima da média mensal de US$ 1,891 bilhão do primeiro semestre. "As remessas de lucros e dividendos também têm um limite, porque as empresas só podem remeter lucros auferidos ou acumulados no país." Os dados parciais de agosto, que cobrem até o dia 21, registram US$ 1,077 bilhão em remessas, bem abaixo dos US$ 3,138 bilhões de julho.

Quando projetou déficit de US$ 1 bilhão para agosto, disse Lopes, o BC trabalhou com uma projeção conservadora para as remessas de lucros e dividendos. Isso significa que, se não houver uma aceleração das remessas daqui para o fim do mês, o déficit em conta corrente poderá ser até menor do que US$ 1 bilhão.

O fraco desempenho das exportações vinha prejudicando também as receitas com transportes. Agora, com o comércio exterior mais favorável, os números devem melhorar. As receitas com transportes estão ligadas às exportações. Em julho, déficit na conta de transportes internacionais foi de US$ 359 milhões, abaixo da média mensal de US$ 496 milhões do primeiro semestre. A desaceleração do déficit só não ficou mais nítida porque em julho há algumas despesas sazonalmente mais altas. É o caso das viagens internacionais, que costuma subir em meses de férias. Em julho, essa conta registrou um resultado negativo de US$ 838 milhões, quase o dobro da média mensal de US$ 439 milhões do primeiro semestre.

Em julho, também há concentração de pagamentos de juros da dívida externa, que somaram US$ 1,288 bilhão, ante uma média de US$ 774 milhões no primeiro semestre deste ano.

O que os números apontam, segundo Lopes, é uma desaceleração no crescimento do déficit externo. Não se prevê que, daqui por diante, as contas externas vão voltar para o azul. Mas há indicações de que o déficit não irá superar muito 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB), a média histórica observada no Brasil desde 1947, quando se iniciou a atual série estatística do balanço de pagamentos.

O saldo negativo acumulado de janeiro a julho, de US$ 19,512 bilhões, equivale a 2,41% do PIB do período. Nos 12 meses encerrados em julho, o déficit chega a US$ 19,494 bilhões, ou 1,41% do PIB. A previsão do BC é um resultado negativo no ano de US$ 21 bilhões, ou 1,49% do PIB. Lopes admite a possibilidade de rever a projeção, mas isso aconteceria apenas em setembro, já que o BC revê suas estimativas apenas trimestralmente.

A avaliação do BC é que o aperto na política monetária também deverá contribuir para evitar tendência explosiva do déficit em conta corrente. O consumo e o investimentos, na visão do BC, são os fatores mais importantes para determinar o déficit externo. A política monetária deverá conter um pouco do crescimento da demanda, com repercussões também nas contas correntes.