Título: ALL amplia transporte de minério em pequenas doses na Novoeste
Autor: Boechat, Yan
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2008, Empresas, p. B8

Ainda sem definição sobre as possíveis parcerias com grandes clientes que poderiam resultar em investimentos para tornar a antiga linha da Novoeste em um grande corredor logístico entre Corumbá e o porto de Santos, a América Latina Logística (ALL) continua sua estratégia de ampliar o volume transportado de minério de ferro na ferrovia em pequenas doses. Dessa vez a ALL fechou acordos com as mineradora Rio Tinto e Vetorial, que têm minas no Mato Grosso do Sul, para ampliar o transporte de minério dentro do próprio Estado. Ao todo serão investidos apenas R$ 10 milhões na reforma de um trecho de 45 quilômetros da ferrovia e na reforma de 45 vagões e uma locomotiva.

Esses recursos serão aplicados apenas no trecho onde a ALL já transporta dois milhões de toneladas anuais para a Rio Tinto. O minério é embarcado em Corumbá e deixa os vagões na cidade de Porto Esperança, a 45 quilômetros do ponto inicial, onde então é transportado de barcaça até o porto de Buenos Aires. Com o investimento a companhia vai passar a transportar mais um milhão de toneladas para a Rio Tinto, que hoje não consegue escoar toda a sua produção por conta das más condições em que este pequeno trecho da Novoeste se encontra.

A reboque a companhia fechou acordo com a mineradora Vetorial, que também explora minério de ferro na região de Corumbá. A ferrovia vai ampliar em 100% o volume transportado, que hoje está na casa das 450 mil toneladas por ano. O minério é embarcado em Corumbá e vai até Campo Grande e Ribas do Rio Claro, também no Mato Grosso do Sul, onde a Vetorial tem clientes que consomem sua produção.

Os dois novos contratos ampliam em 30% o volume de minério de ferro que a ALL transporta anualmente, concentrados na Novoeste. Apesar de um aumento relativo expressivo, em números absolutos estes volumes estão muito abaixo do que a ALL espera transportar. "Sem dúvida é um trabalho de formiguinha, mas estamos conseguindo ampliar o volume da ferrovia, que estava quase parada quando assumimos", afirma, bastante otimista, Bruno Lino, gerente da unidade de produção industrial Norte da companhia.

O grande objetivo da ALL é transformar o trecho entre Corumbá e o porto de Santos em um grande corredor logístico, com foco no transporte de minério de ferro. A companhia estima que haja demanda para transportar, no mínimo, 15 milhões de toneladas por ano entre Corumbá e o porto paulista, o que incrementaria em 27 bilhões de TKUs - toneladas por quilômetro útil - o volume transportado pela empresa. Em 2007 a ALL transportou, em toda a sua malha de mais de 21 mil quilômetros, 32 bilhões de TKUs. "Praticamente dobraríamos de tamanho, o potencial deste corredor é muito grande", diz Lino.

Mas grande também é o volume de investimentos que seriam necessários para tornar a ferrovia capaz de transportar todo esse minério. Envolta em negociações que se arrastam há mais de um ano, a ALL não faz nem mesmo previsões de quanto seria necessário para renovar o trecho. Especialistas do setor estimam que a renovação não sairia por menos de US$ 1 bilhão. "Estamos negociando, mas fui proibido pelo presidente da empresa de falar sobre esse assunto", diz Lino.

A Rio Tinto, que até o final de 2010 vai ampliar em seis vezes sua produção em Corumbá, tem interesses claros no negócio. A MMX, do empresário Eike Batista, que tenta construir um porto no litoral Sul de São Paulo, também. Mas, por enquanto, nada foi fechado, ao menos oficialmente. E, por enquanto também, o incremento no volume de minério de ferro transportado pela ALL deve continuar em uma velocidade semelhante à dos trens que circulam pela Novoeste. Hoje a média por lá é de 14 km/h.