Título: Fundos na corda bamba
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2008, Eu& Investimento, p. D1
O campeonato não terminou, mas todos sempre olham se seu time está na liderança ou fora da zona de rebaixamento. O mesmo devem fazer os investidores que aplicaram em fundos estruturados, com "gatilhos" que podem transformar a aplicação de renda fixa em ações, e estão neste momento de instabilidade de mercado numa verdadeira corda bamba. A novidade foi criada este ano pelo Santander como forma de aproveitar o mercado de derivativos de ações da Vale e da Petrobras, e logo replicada pelo Safra. Juntos, os dois bancos captaram mais de R$ 1 bilhão em várias carteiras.
Nesta família de fundos, chamada de Plus no Santander e de Yield no Safra, o investidor tem, no melhor cenário, ou seja, de a ação subir ou cair até 15% no vencimento do fundo, em seis meses, a possibilidade de ganhar uma taxa de juros acima da de mercado - 130% a 150% do CDI. No pior cenário, caso a ação caia mais de 15%, ainda assim sai ganhando, pois o fundo se transforma em uma carteira de ações da empresa de referência, compradas por um preço atrativo, e tem ainda um ganho de 7% com aplicações de renda fixa.
O pior dos piores cenários é se o papel cair mais de 22% - ou seja, os 15% da ação mais os 7% do ganho da renda fixa. Aí, o investidor tem prejuízo, pois acaba comprando a ação por um preço maior do que o de mercado. Uma queda dessas era impensável na época dos primeiros fundos, mas pode se tornar realidade caso o mercado de ações continue piorando. Isso ocorre porque o fundo se compromete a comprar o papel com desconto de 15% e pagará esse valor fixado mesmo se a queda do papel no mercado for maior. Há a gordura dada pelo ganho em renda fixa, em torno de 7% no período, mas que vai sendo consumida à medida que a queda da ação se aproxima de 22%. Daí para frente, o fundo paga mais pela ação do que o valor de mercado.
As primeiras carteiras a vencer são as de Vale do Santander, em setembro, e vêm testando os nervos dos investidores. Até terça-feira, os papéis caíam mais de 22%, mas se recuperaram nos três últimos dias, para 15% de perda até ontem. Ou seja, estão exatamente no limite entre a gorda renda fixa e a transformação em ações, e longe de novo do prejuízo dado pelo limite de 22% de perda. Mas há fundos onde a queda é maior, de até 30%, por terem sido lançados mais perto do pico dos preços dos papéis no mercado, em maio.
A esperança para o investidor desses fundos é que eles ainda têm muito tempo até o vencimento, ou seja, o campeonato ainda não acabou. É possível que as ações melhorem e voltem para a zona de segurança das carteiras, abaixo de 22% de perda - como ocorreu esta semana - ou até abaixo de 15%, garantindo a renda fixa.
Tudo o que aconteceu com esses fundos está dentro da normalidade e da forma como a carteira foi montada e oferecida ao investidor, diz o superintendente da Santander Asset Management, Alexandre Silvério. "Na ocasião, havia uma oportunidade para os cotistas tanto em relação à rentabilidade prefixada quanto em adquirir um papel bom como Petrobras ou Vale por um preço 15% menor", afirma.
Do ponto de vista do Santander, diz Silvério, há ainda um longo caminho para o primeiro vencimento do Plus. "Hoje o cenário ainda é muito incerto, não sabemos o que vai acontecer com a rentabilidade do fundo até o vencimento", afirma ele, lembrando que "estamos há um mês do vencimento e, com essa oscilação da bolsa, não dá para determinar o que vai acontecer esta semana, nem em setembro e muito menos em outubro". Silvério argumenta ainda que mesmo que o papel caia mais de 22%, o investidor estará aplicado em um fundo de ações de boa qualidade, de Petrobras ou Vale.
Hoje, os fundos estruturados continuam sendo oferecidos ao mercado e projetam uma rentabilidade prefixada equivalente a um ganho entre 130% e 150% do CDI, conta o recém-contratado presidente da Safra Asset Management, Márcio Appel. Antes de ingressar no Safra, há pouco mais de três meses, o executivo ocupava o cargo de vice-presidente de Asset Management do Santander e foi um dos responsáveis pela criação dos fundos Plus. A última edição do Safra Vale Yield, conta Appel, foi fechada com uma taxa de 150% do CDI.
A estrutura desses fundos é completamente diferente da usada nas carteiras de capital garantido, que devolvem pelo menos o dinheiro investido no caso de queda da bolsa, lembra o executivo. Se as ações caírem até 15%, o investidor terá seu dinheiro corrigido por uma taxa que tem variado entre 130% e 150% do CDI ao final do prazo de seis meses. Depois disso, a carteira é transformada em um fundo de renda fixa comum e, se o cliente quiser, pode permanecer no fundo, tendo a rentabilidade obtida na primeira fase incorporada à cota.
No caso de desvalorização dos papéis acima de 15% até o limite 22%, explica Appel, a perda é amortizada por um prêmio de 7% dos juros, e o investidor leva as ações. Se as ações caírem 16%, por exemplo, com o prêmio de 7%, o investidor ainda terá um retorno nominal positivo de cerca de 6%, além dos papéis. Isso porque, como até 15% de queda o investidor está protegido, o prêmio é usado somente para abater o prejuízo - no caso citado, a diferença é de 1% - até os 22%, quando a rentabilidade, então, é zerada.
Só acima dos 22% de queda das ações, o investidor começará a ter efetivamente perdas - provocadas pela diferença entre o valor que as ações saíram para o fundo (deságio de 15% mais a gordura de 7% para anular a perda até os 22%) e a cotação atual do mercado. Por exemplo, se as ações caírem 25%, o investidor perderá, na prática, cerca 3% (diferença entre 22% e o 25%). "Só que o investidor segue com um fundo que tem lastro em ações de Vale ou Petrobras, empresas sólidas, e ainda tem a chance de pegar uma recuperação dos papéis", afirma Appel.
Ele ressalta ainda que o momento atual é bastante interessante para apostar num fundo como esse, porque as ações dessas empresas estão subavaliadas. O Safra está com uma edição aberta para captação até o fim da próxima semana. Trata-se do Safra Yield Vale 4, com aplicação mínima de R$ 10 mil e taxa de administração máxima de 3,5% ao ano. "Estamos fazendo uma edição a cada 15 dias", diz Appel.