Título: País quer triplicar venda de máquinas para a Venezuela
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/08/2008, Brasil, p. A3

Richard Canán Durán, ministro de Economia Agrícola da Venezuela: "A transferência de tecnologia é fundamental" Os empresários brasileiros começam a se beneficiar dos programas estatizantes da Venezuela e das boas relações entre o presidentes Hugo Chávez e Luiz Inácio Lula da Silva. A expectativa dos fabricantes de bens de capital é elevar as exportações dos atuais US$ 600 milhões para US$ 2 bilhões em 2011, graças aos programas de investimento do governo venezuelano.

Uma delegação de 23 funcionários de dois ministérios - o do Poder Popular para Agricultura e o de Terras e para Alimentação - visitaram ontem duas das mais poderosas entidades empresariais do Brasil. Pela manhã, o encontro foi na Associação Brasileira de Fabricantes de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). À tarde, foi a vez da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Na quinta-feira, um grupo da estatal do petróleo PDVSA também estará na Abimaq.

"Essa negociação tem um componente político importante. São relações entre países irmãos", disse o vice-ministro de Economia Agrícola da Venezuela, Richard Canán Durán. Além do Brasil, o governo venezuelano está adquirindo máquinas de nações "amigas" como Argentina e Rússia. "É a primeira vez que uma entidade de classe brasileira faz uma negociação direta com um governo", disse Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq.

Com os cofres cheios graças ao petróleo, Chávez construiu 52 fábricas de alimentos e pretende chegar a 200 no fim de 2009. Se atingir o objetivo, controlará 15% da produção de alimentos do país. O governo também quer aumentar sua fatia na produção agrícola de 12% para 30%. "Estamos preocupados com a segurança e soberania alimentar", disse Ricardo Fong, vice-ministro de Programas Socioeconômicos.

Chávez está preocupado como tema, depois que a tentativa de golpe em 2003 comprometeu o abastecimento do país. O consumo de alimentos da Venezuela aumentou de 32 quilos per capita por ano, em 1998, para 63 quilos, mas importa a maior parte.

Para incrementar a produção, a Venezuela quer copiar o programa brasileiro "Mais Alimentos", que incentiva o pequeno agricultor, o que pode significar a compra de 5 mil tratores e 15 mil máquinas agrícolas brasileiras. "A transferência de tecnologia é fundamental na negociação com o Brasil", disse Durán. A Venezuela adquiriu uma série de tratores chineses, que estão parados por falta de assistência técnica.

No encontro, os empresários reclamam da morosidade na liberação das licenças de importação na Comissão de Administração de Divisas da Venezuela (Cadivi). Os venezuelanos prometeram rapidez para a compra de máquinas agrícolas. "O Brasil domina o know-how de produção agrícola nos trópicos", disse João Carlos Marchesan, diretor-superintendente da Marchesan. A empresa, que exporta 30% da produção, já vende para a Venezuela. (RL)