Título: Segurança pública domina campanha eleitoral em Salvador
Autor: Salgado , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 26/08/2008, Política, p. A7

Os alarmantes índices de violência de Salvador, com um crescimento recorde no número de homicídios nos últimos anos, fizeram com que a discussão sobre segurança pública extrapolasse os limites da administração estadual. O tema ocupa boa parte do horário eleitoral e é motivo de troca de farpas entre os candidatos.

A proposta mais polêmica - e já copiada - é a defendida pelo deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto, do Democratas. Primeiro candidato a trazer o problema da violência para a eleição municipal, ACM Neto propõe a instalação de câmeras de monitoramento nos pontos mais violentos da cidade. Trata-se do "Big Brother Bairro".

As câmeras serão móveis e conectadas às polícias civil e militar, com a guarda metropolitana, corpo de bombeiros e com o serviço de ambulâncias, o Samu. A proposta de Neto é "usar câmeras alugadas, para baratear o custo da operação, e contratar policiais experientes, fora da ativa."

O projeto de Neto foi prontamente combatida pelo candidato tucano e ex-prefeito da cidade, Antonio Imbassahy. Ele diz que o monitoramento é ineficaz. "Parece brincadeira. Até a polícia chegar ao lugar onde aconteceu o crime, já será tarde", disse logo após o primeiro debate na televisão entre candidatos.

Imbassahy acredita que a prefeitura deva exercer o papel preventivo na questão da segurança pública, oferecendo educação, lazer e possibilidades de emprego para as pessoas. O candidato do PSDB também é contra dar poder de polícia à Guarda Municipal. Atualmente, apenas 10% desses guardas são armados.

"Quem previne, acaba reprimindo, as duas coisas estão interligadas", diz Armando Ulm, delegado aposentado que participou da criação do departamento de investigações criminais da Bahia. "É preciso deixar de lado certas hipocrisias e unir as esferas federais, estaduais e municipais no combate à violência."

Walter Pinheiro, candidato pelo PT, segue a linha de Imbassahy, prega o investimento no social e promete ação coordenada com Estado e governo federal. O deputado, contudo, não tem batido tanto nesta tecla quanto os outros candidatos.

Hoje a violência urbana domina o noticiário em Salvador e mobiliza moradores pobres e endinheirados. Nos seis primeiros meses do ano, foram 1.122 homicídios dolosos na Região Metropolitana, aumento de 46% em relação ao mesmo período do ano passado. Esses assassinatos representam 67% do total de 2007.

Em alguns bairros, há toque de recolher. Em 20 de julho deste ano, em um dos mais de dez atentados registrados neste ano, três pessoas morreram e 12 ficaram feridas no bairro do Engenho Velho da Federação. Algumas vítimas foram obrigadas a ficar encostadas para uma parede e receberam tiros. A polícia informou que o ocorrido estava relacionado à disputa pelo controle do tráfico.

O atual prefeito e candidato pelo PMDB, João Henrique Carneiro, também promete o monitoramento. Faz questão de lembrar suas ações contra a violência: câmeras de vídeo em metade dos ônibus, aumento da iluminação pública e criação da Guarda Municipal - promessa da campanha de 2004 que virou realidade só em julho deste ano.

O projeto de instalar câmeras nos bairros, também foi chamadas por João de "Big Brother". A ação será feita em convênio com o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, do governo federal. De uma só vez, busca conquistar eleitores preocupados com a segurança e simpáticos a Lula.