Título: Falta repetir aqui sucesso lá de fora
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 06/03/2011, Economia, p. 10

CONSUMIDOR Vitória brasileira contra barreiras sanitárias e avanço em meio à pesada concorrência não garantem melhora no padrão interno

A bovinocultura brasileira colecionou avanços técnicos e comerciais nas últimas duas décadas, mas ainda esbarra em restrições de sua vigilância sanitária para o consumo doméstico. O Brasil, dono do segundo maior rebanho do mundo, cerca de 200 milhões de cabeças, lidera desde 2008 as exportações, com 20% dos volumes. Para isso, o país atende todas as exigências internacionais de qualidade e outras regras específicas dos seus 150 mercados importadores.

O sucesso da incursão no exterior, que é monitorada diariamente pelos concorrentes, não se repete totalmente no território nacional em razão de sistemas produtivos locais deixarem de ser fiscalizados pelos serviços estaduais e municipais. Luís Carlos de Oliveira, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, conta que o problema é antigo, revelando o tamanho da dificuldade em se vencer resistências políticas paroquiais.

¿O governo militar tentou implantar a federalização do sistema de vigilância sanitária criado na década de 1950 para garantir pleno controle, mas acabou recuando¿, diz. Os abates de bovinos continuaram crescendo e o serviço federal de fiscalização, também. Mas ainda responde por 50% do universo total de carne e derivados vendidos pelo país. ¿O ministro (Wagner Rossi) está ciente das limitações e fixou metas para o ministério, começando pela redução da burocracia¿, acrescenta.

As cadeias produtivas da carne e do leite geram uma receita anual estimada em R$ 67 bilhões, atuante em todos os estados brasileiros. ¿Para se dimensionar as escalas da vigilância, basta lembrar que carnes produzidas no extremo Norte são vendidas no extremo Sul e vice-versa¿, cita Oliveira. As tensões geradas entre fiscalização e frigoríficos atingiram o auge em 2008, com prisões de servidores pela Operação Abate da Polícia Federal, que investigava crimes em Rondônia.