Título: Crise afeta venda de máquinas na Argentina
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 26/08/2008, Agronegócios, p. B12

Os fabricantes de máquinas e implementos agrícolas se esforçam para recuperar a queda de mais de 20% das vendas em unidades e 36% no faturamento na Argentina, em conseqüência da crise do campo. Os quatro meses de paralisação da produção agropecuária, em protesto contra um pretendido aumento de impostos, foram um golpe para essa indústria que vende na Argentina grande parte dos equipamentos montados em suas fábricas no Brasil.

A crise ficou nítida durante a Agroactiva, a maior feira anual de máquinas e implementos agrícolas do país, realizada semana passada em Oncativo, a 80 km de Córdoba. E para piorar o cenário, a safra de grãos argentina está ameaçada por uma seca que há cinco meses atinge as regiões produtoras no norte de Santa Fé, Chaco e Córdoba.

Gigantes mundiais como New Holland e Case IH (ambas do grupo CNH), John Deere e Massey Ferguson tentavam convencer os agricultores argentinos a investir em novas máquinas para a próxima safra, oferecendo produtos de menor potência, tamanho e preço, além de financiamento.

Não tem sido uma tarefa fácil. "Estou aqui por curiosidade, vendo as novas tecnologias, mas não pretendo comprar nada", disse o agricultor Juan Carlos Carnahi ao Valor, enquanto examinava uma plantadeira, de US$ 200 mil, exposta em estande na Agroactiva. Carnahi planta soja e milho em 500 hectares na região de Hernando, na província de Córdoba, e diz que enquanto não houver solução para a defasagem entre o preços finais e os custos, não pretende investir em máquinas. Ele repetia o comentário da maioria dos produtores que visitaram a feira.

"Sem ter certeza sobre as regras do jogo ou pelo menos saber qual será a carga tributária incidente sobre a produção e a comercialização, os produtores não vão investir porque este é um negócio de alto risco climático e de flutuação de preços internacionais", comentava Christian Lancestremere, gerente comercial da Case IH. A Argentina é o destino de 40% das exportações de colheitadeiras, tratores e pulverizadoras produzidas pela Case em suas fábricas brasileiras de Curitiba (PR) e Piracicaba (SP).

Ainda assim, ele diz que a empresa não perdeu tanto porque já vinha redirecionando esforços para ganhar mercado com a maior oferta de máquinas de menor potência e preços mais baixos. A projeção de receita para este ano, de US$ 110 milhões, 30% mais que 2007, por enquanto está mantida.

Os números oficiais do setor, divulgados há duas semanas pelo Ministério de Economia, mostram queda de 21% na venda de máquinas agrícolas importadas e alta de 14% das nacionais, enquanto no total houve queda de 4%. Isso se explica pelo excelente primeiro trimestre, antes da greve no campo em março, quando as vendas cresciam ao ritmo de 20% a 30% ao mês. Depois caíram entre 50% e 80% e, em junho, com o fim da greve, voltaram a subir.

Mas o fim do protesto não significou solução do problema já que o governo não atendeu às principais reivindicações dos produtores em torno de uma nova política agrícola, apenas suspendeu a cobrança do imposto adicional. No início de 2008, a projeção do setor de máquinas era vender 7,5 mil a 8 mil tratores na Argentina, relata José M. Cansiani, gerente de Promoções e Clientes Especiais da New Holland Agriculture. Hoje se prevê, com otimismo, vender no máximo 6,2 mil máquinas, como em 2007. A New Holland tem um centro de distribuição na Argentina para tratores e máquinas produzidos nas fábricas de Curitiba (PR) e Itu (SP).

Cansiani diz que a New Holland tem um portfólio que facilitou driblar a crise e voltar-se para o que ele chama de "economias regionais". São máquinas de menor porte e potência direcionadas para os produtores de uva, tabaco, frutas, cítricos, chá e erva mate, olivas e horticultura nas regiões de Mendoza, San Juan e Jujuy, no norte e centro-oeste do país.

Na John Deere, Alberto Souto, gerente de Promoções e Vendas, diz que houve uma "desaceleração" na Argentina, mas não especificou quanto. As colheitadeiras e plantadeiras da empresa são fabricadas em Horizontina e Porto Alegre (RS) e Catalão (GO), e distribuídas para toda América do Sul.

Na Argentina, a John Deere tem uma fábrica de motores em Granadero Baigorría, na província de Santa Fé, que abastece a montagem no Brasil. Por enquanto, diz Souto, não foram alterados os planos de elevar de 16 mil para 25 mil unidades a produção dessa fábrica nos próximos cinco anos.

Mas o que mais fazia sucesso no estande da John Deere não eram tanto as máquinas, e sim os planos de financiamento e um novo consórcio lançado pela empresa. Dezenas de pessoas consultavam as condições e faziam propostas, mas Souto não sabia dizer se algum negócio havia sido fechado.

O pagamento com cereais era uma alternativa analisada pela Massey Ferguson, disse o gerente de Marketing Sergio Di Benedetto. Segundo ele, a Massey havia recebeu 20% menos propostas de compra que durante o evento de 2007.

Entre os fabricantes locais as dificuldades para ganhar mercado são ainda maiores, já que não contam com a base de capital das multinacionais para investimentos, promoções e financiamento. A argentina Agrometal vendeu 25% menos no primeiro semestre ante o mesmo período de 2007, segundo o gerente comercial Oscar A. Lattanzi. A empresa - que fabrica máquinas para plantio de trigo, soja e girassol - pretendia vender 900 plantadeiras este ano, mas já reduziu sua meta para entre 600 e 650. "Os produtores ou plantaram menos ou desistiram de trocar de máquinas", diz Lattanzi.