Título: Setor automotivo já percebe crescimento mais lento
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 28/08/2008, Brasil, p. A6

Representantes do setor automotivo se declararam aliviados, ontem, ao sair de reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual ouviram que o governo não pretende aumentar a alíquota do IOF sobre o leasing, nem ceder à pressão dos governadores de aumentar o ICMS que incide na mesma operação.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, já havia manifestado essa preocupação durante reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Não seria um bom momento para aumentar a carga tributária do setor", disse.

Da reunião com Lula participaram representantes de 19 das 27 montadoras ligadas à Anfavea. Eles asseguraram ao presidente que o setor automotivo não é responsável por problemas na área de crédito, nem da inflação. Apontaram que a taxa de inadimplência entre os compradores de automóveis é de 3%, ante uma taxa média nacional de 7%. Schneider afastou ainda um fantasma que preocupa alguns economistas: os prazos excessivamente longos de financiamentos para a aquisição de veículos novos e usados.

Segundo ele, a média de financiamentos no setor é de 42 meses. O empresário admite que algumas propagandas veiculam a possibilidade de financiamentos mais longos, que podem chegar a mais de 90 meses, em alguns casos. Em entrevista publicada ontem pelo Valor , o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga considerou "pouco razoável" financiamentos de dez anos para a compra de um carro. "São casos residuais. Noventa por cento dos financiamentos não passam dos 60 meses e a média é de 42 meses", disse Schneider.

O presidente da Anfavea apresentou a Lula um cronograma de investimentos em autopeças e montadoras na ordem de US$ 23 bilhões no período de 2009-2012. O setor está entusiasmado com algumas iniciativas do governo brasileiro, sobretudo com a possibilidade da abertura de novos mercados, especialmente na América Latina. O mesmo otimismo já havia sido manifestado pelos representantes da Toyota, em recente reunião com Lula.

Apesar das boas notícias, Schneider reconhece que o ritmo de crescimento do setor automotivo deve diminuir nos próximos meses. Em julho, o crescimento nas vendas em relação ao mesmo mês de 2007 foi de 33%. "Este mês será, com certeza, menor, ficando próximo dos 20%", prevê. O executivo nega que isso signifique algum tipo de crise no setor automobilístico, que vem tendo resultados expressivos desde 2002. "Vamos continuar crescendo até o fim deste ano e manteremos a tendência em 2009, só que a um ritmo mais lento."

O presidente da Anfavea credita esse cenário à uma "acomodação natural do mercado". Ele admite que pode haver algum impacto por conta dos recentes aumentos na taxa selic. Mas aponta, por outro lado, que o grande número de veículos vendidos nos últimos anos atendeu a uma demanda reprimida da sociedade. Os empresários ouviram de Lula a frase que será um dos motes da reunião ampliada do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, marcada para hoje: "Estamos determinados a transformar o país em uma grande economia."