Título: Turista precisa analisar pagamento com cuidado
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 06/03/2011, Economia, p. 15

Os brasileiros estão viajando mais para fora do país e muitos, pela primeira vez, deparam-se com a dúvida do que levar na bagagem quando o assunto é dinheiro. Além das moedas estrangeiras, as instituições financeiras oferecem atualmente formas consideradas mais seguras de carregar recursos financeiros, como cartões magnéticos. Especialistas aconselham, porém, ficar atento às diferenças entre os meios de pagamento para evitar altas tarifas e riscos do câmbio flutuante. O cuidado pode evitar uma desagradável surpresa para quem faz compras no exterior.

A confusão começa na diferença entre as cotações do dólar, moeda mais comum nas viagens internacionais. ¿O dólar comercial, que normalmente é noticiado na televisão e nos jornais é uma espécie de moeda virtual. Ela tem cotação diferente porque não carrega o custo do dinheiro em papel¿, explica o José Luiz Rodrigues, sócio da JL Rodrigues, Carlos Átila Consultores Associados.

O câmbio comercial sai mais baixo, explica o consultor, até porque não é preciso, por exemplo, transporte em carro forte, o que implica mais custos. ¿Além disso, uma cotação é regida pelo comércio internacional e por uma série de regras do Banco Central (BC). A outra segue leis de mercado, o que significa que se existe mais gente procurando dólares para comprar, eles ficarão mais caros¿, acrescenta.

As opções para quem viajava ao exterior até há alguns anos eram poucas e além do dinheiro em espécie, a alternativa era o traveler cheque ¿ papéis similares à moeda ¿ meio considerado mais seguro, uma vez que no caso de perda ou roubo o cliente era reembolsado. Para usar ambos, no entanto, era preciso pagar o dólar turismo. Atualmente, a maioria dos bancos oferece também a opção do cartão internacional, que permite as operações normais de saque e compra a prazo com o mesmo instrumento adotado para realizar transações no Brasil.

O principal benefício dessa modalidade é que a cotação normalmente é mais barata que a do dinheiro físico, arbitrada pelas operadoras de cartões. Por outro lado, cada banco cobra taxas específicas pela utilização do serviço. ¿A grande reclamação das pessoas que optam por esse meio é depender exclusivamente das tarifas cobradas pela instituição, que em alguns casos acabam igualando o preço do dólar no cartão ao do papel¿, alerta Carlos Dias, operador-sênior de câmbio da Corretora Tov.

Dúvidas A possibilidade de utilizar o cartão do banco aumentou as dúvidas de Maria Carolina Dias Lenhardt, supervisora de uma operadora de celular. A jovem se prepara para uma viagem aos Estados Unidos, a primeira ao exterior, e ainda não decidiu se leva dólares. ¿Já fiz todo o possível para me informar. Conversei com pessoas mais habituadas a sair do Brasil, fui a casas de câmbio, mas ainda não sei¿, lamenta. Ela diz estar mais inclinada ao dinheiro em espécie, em razão do roteiro que pretende fazer. ¿Vou lá fazer compras e, como o dólar está mais desvalorizado, devo acabar optando por ele¿, diz.

Uma das alternativas estudadas por Maria Carolina foi o cartão oferecido pela operadora Visa, que permite recargas estabelecidas pelo usuário e pode ser usado na função débito em diversos países. ¿Disseram que é aceito em qualquer lugar, até em parques de diversão, mas tem taxas. Além dos R$ 15 para adquirir, há o (Imposto sobre Operações Financeiras) IOF de 0,38% por operação¿, comenta. Para José Luiz Rodrigues, o cartão recarregável é boa opção para quem pretende viajar com orçamento definido. ¿É um jeito eficiente de controlar os gastos, usado muito por pais que mandam os filhos para o estrangeiro¿, lembra.

Dias lembra que, apesar das opções eletrônicas, parte dos viajantes ainda prefere o dinheiro vivo. ¿É uma questão cultural e também tem o detalhe da novidade. Quem viaja ao exterior pela primeira vez gosta de comprar a moeda do país, quer tê-la em mãos¿, avalia. Para esse público, a facilidade de trocar as divisas vai aumentar, após o BC permitir que lotéricas e o Banco Postal (agências dos Correios) realizem operações de câmbio. O operador, no entanto, acha que a popularização do dólar será lenta. ¿As lotéricas, por exemplo, vão demorar a se adaptar. Há uma questão de segurança envolvida. Não sei se é tão fácil quanto o governo imaginou¿, aposta.

A permissão para operar câmbio nas redes dos Correios e lotéricas, anunciada no fim de fevereiro, foi a maneira encontrada pelo governo para ampliar o número de postos aptos a receber os estrangeiros. Para o BC, a procura por esse serviço deve aumentar em função dos eventos esportivos programados para 2014 (Copa do Mundo) e 2016 (Olimpíadas). As instituições poderão realizar trocas de até US$ 3 mil, mas para isso devem firmar convênios com operadoras de câmbio tradicionais.