Título: PSDB e DEM tentam salvar aliança
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 27/08/2008, Política, p. A8

Em crise diante do crescimento da candidatura de Gilberto Kassab (DEM) e da queda de Geraldo Alckmin (PSDB) nas pesquisas de opinião, tucanos de São Paulo já falam em administrar a eleição com o "menor nível de dano possível" para poder chegar ao final da campanha e assegurar uma aliança no segundo turno com o Democratas. "Essa é uma desgraça anunciada há muito tempo", avaliou, desolado, um cacique tucano.

A situação é considerada crítica e na avaliação dos dirigentes partidários só quem tem a perder é o PSDB. De fato, ontem o Democratas enviou um recado aos tucanos paulistanos que diz que quem tem que encontrar uma solução para o problema é o PSDB. Nas entrelinhas, a eventual renúncia de Alckmin, visto ser improvável que ele mantenha uma campanha sem atacar o prefeito candidato à reeleição.

No PT, o confronto entre Democratas e os tucanos de Geraldo Alckmin e do governador de São Paulo, José Serra, levou o partido a começar a considerar a hipótese de Marta Suplicy vencer ainda no primeiro turno da eleição de 5 de outubro. "Uma hipótese que passou a ser visível, mas uma equação muito difícil de fechar", segundo dirigente.

Uma vitória no primeiro turno, na avaliação real dos petistas, somente terá condições objetivas de ocorrer com o agravamento do confronto entre os grupos de Serra e Alckmin, mais o Democratas de Gilberto Kassab. Algo que eles já não julgam tão improvável e deixa perplexo o Democratas. No DEM, a única explicação encontrada para a profundidade do racha tucano é a disputa entre José Serra e o governador Aécio Neves em torno da sucessão do presidente Lula.

O Democratas avalia ser impossível que todos os problemas do PSDB tenham "se encavalado" num momento só, às vésperas das eleições municipais. Outra explicação é que Alckmin se iludiu com a votação que teve contra Lula na cidade de São Paulo, nas eleições de 2006.

Enquanto observa o que acontece do outro lado, a campanha de Marta Suplicy decidiu manter a estratégia até agora adotada, cuja melhor tradução seria seu programa de TV. Segundo petistas, uma espécie de reedição da campanha vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002: "Marta Paz e Amor". Resumo feito por um deputado ligado à campanha de Marta: o PT está tranqüilo, o PSDB, em confusão.

Os tucanos ligados ao governador José Serra têm evitado falar sobre a crise na campanha de Alckmin, para não agravar ainda mais o problema. A avaliação dos dirigentes tucanos é que o quadro está muito confuso, mas era um quadro previsível. Tudo o que ocorreu na primeira semana de campanha teria sido previsto. Mais do que isso, houve várias tentativas de convencer Alckmin de que não se poderia chegar a essa situação, pois ela fatalmente levará a uma campanha muito difícil, cheia de conflitos.

O raciocínio básico era e ainda é o seguinte: Numa campanha eleitoral, a situação nunca tem dois candidatos. Podem ser dez os candidatos, que nove serão da oposição, seja ela a oposição light ou a oposição radical. Mas só um será o candidato da continuidade, e em São Paulo este nome era e ainda é o de Kassab.

Ou seja, não havia jeito: Geraldo Alckmin seria um candidato de oposição, cuja essência é o conflito, e como tal ele teria de fazer oposição aos aliados (o DEM e Kassab), ao PSDB (que ainda governa São Paulo por meio dos quadros que manteve na prefeitura) e aos companheiros (José Serra, que apoiou a candidatura Democrata).

Na contra-mão da pressão do Democratas, no entanto, o PSDB não acredita que possa ocorrer alguma mudança no atual quadro eleitoral de São Paulo. "Não dá para imaginar", disse um tucano ligado à candidatura Kassab. "Esse quadro vai se manter, o que nós temos que fazer é administrar da melhor maneira possível até o final, de modo a assegurar os apoios no segundo turno".

Os tucanos procuram se impor uma lei do silêncio porque consideram que qualquer frase, mesmo vazia, é muito explorada politicamente. Ontem, por exemplo, os jornais estamparam uma frase de Alckmin segundo a qual o apoio de Serra não teria "efeito prático" na eleição. Os serristas afirmam que Alckmin apenas afirmou o óbvio: em São Paulo, o apoio de Serra ou de Lula a um dos candidatos não terá nenhum efeito prático do ponto de vista da opinião pública.

Nem Lula nem Serra, segundo essa avaliação, teriam condições de transferir votos a ponto de influir no resultado da eleição. No máximo o que pode acontecer é José Serra consolidar a imagem de Kassab como o candidato da continuidade. Como o prefeito é um candidato cuja gestão é bem avaliada, ele pode se beneficiar da idéia continuísta.

O temor dos serristas é que a campanha de Alckmin agora possa enveredar "contra o nosso governo, as nossas pessoas". Em geral, acredita-se que Kassab roubará mais pontos do tucano. Como ocorria na eleição de 2006, enquanto Lula disparava nas pesquisas, correligionários de Alckmin se limitam a dizer que o crescimento de Kassab era previsível, mas que a situação deve mudar, passado o impacto da primeira semana de campanha.