Título: Lula defende reforma tributária
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 27/08/2008, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a participação no 18º Congresso Nacional dos Contabilistas, em Gramado (RS), e saiu ontem em defesa da proposta de reforma tributária que tramita no Congresso e que pretende ver aprovada até o fim do ano. Ele também defendeu a reforma política com financiamento público das campanhas para dar "legitimidade" aos partidos e evitar que os candidatos precisem "correr atrás de empresários" para obter recursos e depois "pagar a conta".

Depois de ser homenageado pela promulgação no fim do ano passado da lei 11.638, que alinha a norma brasileira aos padrões internacionais de contabilidade, e listar iniciativas recentes do governo federal que beneficiaram os contabilistas, o presidente pediu a "colaboração" dos profissionais para a aprovação reforma tributária. "Queria pedir para vocês conversarem com os deputados que vocês conhecem, com os senadores", disse.

A proposta, que prevê a harmonização das regras do ICMS e a transição gradual do recolhimento do imposto do Estado de origem (que ficará com uma alíquota de apenas 2%) para o destino, é "prioritária" para acabar com a guerra fiscal e garantir uma tributação "mais eficiente e mais justa, em que as pessoas paguem menos imposto, mas que todos paguem", afirmou Lula. "Todo mundo é favorável e todo mundo concorda, mas quando chega no Congresso começa a ter problemas".

Na opinião do presidente, o Brasil precisa reformar o sistema tributário para "mudar um pouco a página da discussão política". "E outra reforma que queremos fazer é a política", afirmou. Mas, para ele, a iniciativa não deve ser do poder Executivo. "É uma coisa da sociedade, dos partidos e do Congresso Nacional. Estamos dando a nossa sugestão para que seja levada em conta no debate".

Lula voltou ainda a destacar o "desenvolvimento sustentável" da economia brasileira, com crescimento "sólido e constante" num ambiente de "inflação baixa e sob controle", aumento do emprego e da renda e redução da pobreza. Segundo ele, o governo fará um evento amanhã, em Brasília, para mostrar uma "fotografia" do que está acontecendo no país. "Porque quando um anúncio é feito individualmente por uma empresa que vai investir R$ 1 bilhão ou R$ 2 bilhões, isso não tem nenhuma repercussão na imprensa", afirmou.

Segundo Lula, o Brasil teve "muita sorte, pesquisa e decisão de governo" na descoberta das reservas de petróleo no pré-sal. Segundo ele, o país deve investir em refinarias para não exportar óleo cru, mas para produzir "gasolina Premium" e vender para os EUA e a Europa. "Queremos aproveitar para recuperar a indústria naval brasileira, fazendo estaleiros, navios, sondas e plataformas".

Para o presidente, os "sinais de crise" da economia americana e européia até agora não chegaram no Brasil, mas o país pode ser afetado devido às relações comerciais que mantém com essas regiões. "Mas temos um cenário novo que é a ascensão dos emergentes, sobretudo os Bric (que inclui além do Brasil, a Rússia, Índia e China) e da América do Sul, e se estabelecermos boas relações, procurando novos parceiros, poderemos não sofrer as conseqüências de uma possível recessão nos Estados Unidos".