Título: Odebrecht se arma para entrar na disputa por serviços de saneamento
Autor: Boechat , Yan
Fonte: Valor Econômico, 27/08/2008, Empresas, p. B1

Atuando de forma marginal no setor de saneamento por conta das imposições legais que só deixaram de existir no ano passado, a Odebrecht se prepara para tentar ser uma das maiores empresas na prestação de serviços de abastecimento de água, tratamento de esgoto e gestão de resíduos industriais. Criada no fim do ano passado como Odebrecht Engenharia Ambiental (OEA), a nova empresa do grupo está tomando forma e a partir de agora passa a atuar como uma holding de saneamento dentro do grupo. Sob sua administração foram criadas duas empresas distintas, uma para atuar com água e esgoto e outra com tratamento de resíduos industriais. A expectativa do grupo, que não fala muito sobre a nova empresa e diz apenas que ainda está em processo de formatação, é registrar já no próximo ano faturamento de R$ 600 milhões, segundo executivos que conhecem o projeto.

Todos os ativos da Odebrecht ligados à área de saneamento e tratamento de resíduos foram transferidos para o controle da Engenharia Ambiental, que se desligou da construtora e agora passa a responder diretamente a Marcelo Odebrecht, que deve assumir a presidencia do grupo até o início de 2009. Estão sob controle da OEA as quatro concessões de tratamento de água e esgoto que o grupo detinha; a Cetrel-Lumina, empresa de tratamento de rejeitos industriais que pertencia à construtora e à Braskem; e uma série de obras, prestação de serviços e desenvolvimento de projetos que estavam espalhados pelo grupo. Para comandar a nova empresa foi escolhido Fernando Santos-Reis, que nos últimos anos dirigia as operações da construtora na América Central e no norte da América do Sul.

A Odebrecht Engenharia e Saneamento vai controlar duas empresas distintas, criadas nos últimos dois meses, a Saneamento Brasil e a Lúmina. A Saneamento, como fica explícito em seu nome, foi constituída para atuar apenas no setor águas e esgoto. Será ela que disputará novas concessões, administrará as que a companhia já tem, entrará em processos de PPP e coordenará uma área de prestação de serviços de engenharia para o setor.

A Saneamento já nasce com quatro concessões. Duas são plenas, ou seja, fazem a prestação de serviços de água e esgoto. Uma é a Águas de Limeira, cujo modelo deve ser replicado pela empresa. A outra é a Citagua, empresa comprada pela Odebrecht recentemente e que administra os serviços de saneamento de Cachoeiro do Itapemirim (ES). A empresa também controla todo o tratamento de esgoto das cidades paulistas de Mauá e Rio Claro.

A Saneamento Brasil é a principal aposta da Odebrecht em um setor que ainda conta com uma participação extremamente tímida das empresas privadas. São poucos os serviços de água e esgoto administrados por empresas não estatais no país. Mas por conta da grande necessidade de investimentos, poucos duvidam que haverá um enorme espaço para a participação das companhias privadas. Em São Paulo, por exemplo, a Sabesp, maior estatal paulista, se uniu à espanhola OHL para, juntas, prestarem serviço de abastecimento de água e esgoto na cidade de Mogi Mirim (SP). "Esse é um modelo que eles (Odebrecht) estão estudando, eles não querem entrar em disputa com o poder público, mas sim unir-se a ele", diz executivo de uma estatal que já teve conversas com a recém criada Saneamento Brasil.

Além de buscar parcerias com as estaduais, a Odebrecht ainda pretende adquirir novos ativos. Eles são poucos à venda, mas ao menos cinco empresas estão na mira da companhia, entre elas a Comasa e a Uniáguas, localizadas no interior de São Paulo. Até o fim do ano ao menos um dos negócios deve ser fechado.

A Cetrel-Lumina, que já está presente no Pólo de Camaçari, na Bahia, passará a se chamar apenas Lumina e atuará como empresa independente dentro da OEA. Seu objetivo principal nesse momento é estender suas operações para a região Sudeste no serviço de tratamento de resíduos sólidos e efluentes industriais. A direção da nova companhia já decidiu que vai focar seu negócio junto às empresas de siderurgia, mineração e petroquímica.