Título: MasterCard expande operações e resiste à desaceleração americana
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Fonte: Valor Econômico, 27/08/2008, Finanças, p. D1
Walter Macnee, presidente da área de mercados globais da MasterCard, não espera uma bolha no setor: "Vimos na atual crise várias pessoas entregando suas casas mas mantendo o cartão" A expansão dos negócios em mercados internacionais de rápido crescimento como o Brasil e a contínua substituição do cheque e do dinheiro vivo pelo cartão de crédito e de débito estão permitindo à MasterCard resistir à desaceleração da economia americana, desencadeada pela crise das hipotecas de alto risco e o aperto de crédito. A afirmação é do presidente da área de mercados globais da MasterCard, Walter Macnee, que concedeu ontem entrevista ao Valor, em sua terceira passagem pelo país.
A MasterCard teve um lucro líquido de US$ 276 milhões no segundo trimestre, com aumento de 25% nas receitas sobe igual período de 2007. A MasterCard tem sido pouco afetada pela crise por causa da expansão internacional dos negócios. A empresa não divulga números mas, segundo Macnee, pouco mais de 50% das receitas vêm do exterior. Além disso, assim como sua concorrente, a Visa, não assume o risco dos empréstimos e apenas cobra taxas para processar os pagamentos entre instituições financeiras. Outras bandeiras americanas como a American Express e a Capital One operam de modo diferente e estão registrando taxas crescentes de inadimplência.
Macnee não espera uma bolha no mercado de cartões de crédito americano como aconteceu na área imobiliária porque as pessoas preferem manter o cartão "limpo" mesmo em situação adversa. "Vimos na atual crise várias pessoas entregando suas casas mas, mantendo o cartão", disse Macnee, canadense de 52 anos, que trabalha na MasterCard desde 1999, preside a área de mercados globais desde novembro passado e, anteriormente, cuidava da região da América Latina e Caribe.
A MasterCard, ponderou Macneee, poderia ser afetada pela redução dos negócios causada pela desaceleração da economia. Mas, como opera bastante no exterior, compensa assim o menor crescimento no mercado doméstico.
O Brasil faz, com certeza, parte dos mercados externos importantes para a empresa. Macnee alinhou os motivos: "O Brasil tem uma grande população, que está enriquecendo, como mostra o fenômeno do crescimento da classe C, e usando cada vez mais o cartão em substituição ao dinheiro e ao cheque. A economia é muito forte, apoiada na produção de commodities, e a política econômica inteligente". A MasterCard, que tem 42 anos de existência, opera há doze no Brasil.
Macnee vê com naturalidade as discussões do mercado brasileiro a respeito da expansão das operações do parcelado no cartão e a disputa entre varejistas e adquirentes a respeito das taxas cobradas. "Nós adoramos competição. A melhor idéia é a que ganha o dia. Nós gostamos de oferecer características adicionais desejadas pelo mercado", afirmou a respeito do parcelado.
O atual presidente da MasterCard para a América Latina e Caribe, Richard Hartzell, lembrou que o crédito parcelado no cartão surgiu no mercado brasileiro para competir com o cheque pré-datado e mostrou uma rápida reação do mercado. "Acreditamos que o mercado vai se ajustar, com transparência. Uma disrupção não é favorável ao nenhum dos lados", afirmou a respeito da disputa entre bancos e varejistas em torno do mecanismo de financiamento.
Segundo Macnee, o espaço para a MasterCard crescer no Brasil é grande. Cada brasileiro possui em média menos de dois cartões, enquanto nos Estados Unidos a média é de quatro cartões por pessoa.
No Brasil, o número de cartões de bandeira atingiu pouco mais de 103 milhões de unidades. Antes de trabalhar na MasterCard, Macnee trabalhou 18 anos no Toronto Dominion Bank, onde entrou em 1983. Ele também presidiu as operações da Visa no Canadá e foi vice-presidente do Canadian Imperial Bank of Commerce, de Toronto.