Título: Alta maior da Selic infla a rentabilidade de prefixados
Autor: Cotias , Adriana
Fonte: Valor Econômico, 27/08/2008, EU & Investimentos, p. D2

Certain, da UAM: elevação do juro reduziu projeções para as taxas longas Enquanto as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B, atreladas ao IPCA) apresentaram perdas consideráveis com o aumento da Selic em dose maior do que o mercado esperava em julho, os prefixados tiveram ganhos para lá de convidativos. A Nota do Tesouro Nacional série F (NTN-F, papel pré que paga juros semestralmente) com vencimento em 2017 rendeu 6,04%. Mesmo a Letra do Tesouro Nacional (LTN) com resgate mais curto, em janeiro de 2010, teve um retorno nada desprezível para um único mês: de 1,52%.

Isso ocorreu porque quando o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou o juro básico em 0,75 ponto percentual - acima do 0,50 ponto dos encontros anteriores -, para 13% ao ano, as projeções de juros mais longas caíram e, com isso, os preços dos papéis subiram no mercado secundário. "Com a alta maior agora, ficou a percepção de que lá na frente será necessário menos juros para conter a inflação", diz Paulo Certain, gestor de Renda Fixa da Unibanco Asset Management (UAM). Quem comprou pré longo antes do ajuste acabou embolsando o retorno melhor.

Para Certain, os prefixados com prazos mais longos têm gordura para queimar e, portanto, ainda têm retornos atrativos. "Se o investidor comprar esses papéis para os próximos seis meses ou um ano, a rentabilidade efetiva ficará em função somente da política monetária." Assim, se o aplicador levar a aplicação até o vencimento, não há chance de perda de capital. Mas se a Selic subir além do inicialmente previsto, ele terá uma perda em relação ao custo de oportunidade, ou seja, o que ele ganharia se tivesse aplicado pela nova taxa mais alta.

Apesar de os retornos dos prefixados encherem os olhos, as taxas implícitas nos contratos de Depósitos Interfinanceiros (DI) negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) - mais elevadas do que a Selic projetada para a virada de 2009 para 2010, em 14% (Focus) - sinalizam que correr risco puro de taxa de juros é só para os corações mais fortes, adverte o diretor de Tesouraria do Banif Banco de Investimentos, Rodrigo Boulos. "O investidor precisa ter outros recursos para liquidez, porque se precisar do dinheiro no meio do caminho, pode não ter uma saída feliz por causa da marcação a mercado (o ajuste do valor dos títulos aos juros)", diz. "Na NTN-B, a queda no cupom (a taxa pré além da inflação) pode ser compensada com a inflação mais alta, há uma certa proteção, enquanto no prefixado a perda fica mais evidente."

A recente queda das commodities e a atuação austera do BC cumpriram o papel de conter as pressões sobre os preços, o que significa que o pico de alta talvez tenha ficado para trás, afirma o diretor da corretora Interfloat Roberto Lombardi. "Se o investidor acredita que o repique inflacionário passou, é recomendável caminhar para os prefixados." Ele não sugere papéis muito longos, mais suscetíveis às variações no secundário, e prefere as Letras do Tesouro Nacional (LTN), prefixadas, com resgate em até dois anos. O título com vencimento em janeiro de 2010 garantia ontem um retorno de 14,81%.

Com o aumento da instabilidade no mercado acionário, os títulos públicos passaram a ser uma opção para o investidor típico da bolsa diz Jansen da Costa, da Ativa Corretora, que percebeu neste ano o aumento da procura por quem nunca tinha investido no Tesouro Direto. "É uma forma de o aplicador fugir das altas taxas de administração cobradas pelos bancos nos fundos de investimentos"

Ele lembra, porém, que um dos aspectos inconvenientes do Tesouro Direto é que o investidor sempre estará negociando com o próprio governo, dada a ausência de um mercado secundário, especialmente para a pessoa física. Quando precisa de liquidez, o aplicador depende das recompras semanais do Tesouro, realizadas às quartas-feiras. E quando há eventos como o Copom, as negociações são interrompidas. "O mercado de renda fixa acabou se limitando a um perfil de investidor mais profissional", diz.