Título: Carteiras de ações começam a registrar resgates em agosto
Autor: Monteiro , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 27/08/2008, EU & Investimentos, p. D6

O fôlego dos investidores pelos fundos de ações, que vinham puxando a captação de recursos do setor, começa a dar sinais de arrefecimento. Desde o início do ano, enquanto várias categorias de fundos registravam resgates, as aplicações em ações se mantinham positivas, mesmo com o mercado oscilando muito. A paciência do investidor, entretanto, parece agora estar perdendo força. Apesar de no ano os fundos de ações ainda terem captação de R$ 5,035 bilhões, em agosto a categoria apresenta resgates de R$ 142 milhões, até o dia 22. A saída de recursos pode ser considerada pequena e ainda é cedo para se falar em reversão de tendência. De qualquer forma, o movimento chama a atenção, pois é algo que não se via no setor até agora.

Segundo levantamento do site financeiro Fortuna, de 16 de maio a 22 de agosto, ou seja, em 14 semanas, os fundos de ações captaram R$ 5,3 bilhões, apesar de registrarem perda média de 22,67%, ante queda de 23,52% do Índice Bovespa no mesmo período. Do total captado, 55% dos recursos tiveram como destino fundos exclusivos. Em seguida, ficaram as carteiras formadas somente por papéis da Petrobras, com 19%. Os fundos compostos somente por ações da Vale representaram 9% da captação e as demais categorias, 18%. Tanto as aplicações em Petrobras como em Vale são aquelas formadas por recursos próprios do investidor, já que as carteiras que receberam recursos do FGTS não podem mais receber captações.

A paciência do investidor diminuiu bastante e, o que se vê, é todo mundo colocando o pé no freio, diz Marcelo Pereira, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Tag Investimentos. "Muita gente estava colocando dinheiro em bolsa na aposta que que o mercado voltaria, mas não voltou, e o longo prazo está cada vez mais longo, o que exige uma paciência extra", afirma o executivo. "Já é comum ver clientes que entraram há um ou dois meses que já estão sacando", conta.

Na avaliação dele, muitos papéis estão bem baratos na bolsa, dado que o lucro reportado por grandes empresas no primeiro semestre permaneceu alto. "O problema é comprar e conseguir carregar essas ações até o mercado dar uma respirada, principalmente com a renda fixa com retornos interessantes", diz. "O momento é de busca por proteção."

Os dados do Fortuna mostram captações de R$ 9,202 bilhões no setor de fundos com um todo até o dia 22. Um olhar mais atento, no entanto, mostra que não é bem assim. O número aparece positivo graças ao ingresso de recursos, no valor de R$ 32,056 bilhões, da categoria poder público - carteiras voltadas para estados e municípios e que o investidor comum não tem acesso. Excluindo-se esses fundos e as carteiras de privatização (com dinheiro do FGTS), o que se vê é que o setor de fundos apresenta resgates de R$ 21,819 bilhões. No mês, fazendo-se as mesmas exclusões, os saques somam R$ 5,954 bilhões.

Em agosto, até o dia 22, os fundos de renda fixa que podem aplicar em títulos prefixados apresentam resgates de R$ 3,149 bilhões. A rentabilidade média da categoria é de 0,73%, ante 0,77% do CDI no período. No ano, as saídas somam R$ 19,958 bilhões e o ganho médio é de 7,22%, ante 7,33% do CDI.

Chama a atenção, ainda, os resgates no mês dos fundos curto prazo - carteiras que aplicam em títulos com vencimento em até 360 dias. A categoria registra resgates de R$ 1,123 bilhão e retorno médio de 0,70%. No ano, no entanto, a categoria ainda tem captação de R$ 2,005 bilhões. Em termos de retorno, o ganho médio é de 6,58%.