Título: Falta de espaço tira encomenda da Rio Naval
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2008, Empresas, p. B7
O consórcio Rio Naval, formado pela MPE e Sermetal, ganhou nove do 26 navios licitados pela Transpetro, um contrato estimado em US$ 1,1 bilhão, mas não deverá construir nenhum. A área que o consórcio utilizaria para fazer as embarcações, parte das instalações do antigo estaleiro Ishibrás, na Ponta do Caju (zona norte do Rio), é considerada insuficiente pela para fazer os navios com tecnologia de última geração. A encomenda faz parte da primeira fase do programa de reaparelhamento da frota da Transpetro, subsidiária da Petrobras.
O presidente da Transpetro, Sérgio Machado, confirmou que os navios terão de ser feitos em outro local, mas não disse qual será a solução a ser adotada. Uma das saídas é fazer nova licitação. Outra, seria realocar as embarcações entre os estaleiros que ganharam as outras 17 encomendas. A direção da MPE não foi localizada para dar sua posição. Várias vezes questionada pela demora em começar a construção dos navios, a Transpetro começa, formalmente, na sexta-feira a tirar o projeto do papel. Está agendada uma cerimônia de corte da primeira chapa no Estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Atlântico Sul pertence aos grupos brasileiros Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e PJMR e ao coreano Samsung. Ele vai montar dez navios do tipo Suezmax, os maiores do pacote, cada um com capacidade para 165 mil toneladas de porte bruto (tpb), aproximadamente um milhão de barris de óleo. Os outros sete navios serão feitos pelo estaleiro Mauá, do Rio (quatro para transporte de derivados de óleo) e pelo estaleiro Itajaí, em Santa Catarina (três embarcações para transporte de gás). O Rio Naval faria quatro navios tipo Aframax , de 120 mil tpb, e quatro Panamax (entre 70 mil e 80 mil tpb). Pelo perfil dos três estaleiros, se houver uma redistribuição, o Atlântico Sul é candidato a ficar com os Aframax e o Mauá, com os Panamax.
Esse arranjo deixaria o Rio de Janeiro, historicamente o maior centro de construção naval do país, com apenas oito dos 26 navios. Pernambuco, que nunca teve antes um grande estaleiro, ficaria com 15. O problema, segundo explicou Machado, é que a tecnologia moderna prevê a montagem do navio em poucos e grandes blocos que somente no final se encaixam no dique ou na carreira de montagem. Isto exige grandes espaços para a execução dos blocos. As áreas dos antigos estaleiros do Rio não se enquadram nessa configuração.
Na tentativa de dar ao Rio um estaleiro de grande porte e tentar recuperar sua liderança no setor de construção naval, o Estado conseguiu com a Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ) a liberação de um grande terreno em Itaguaí, próximo ao porto local (antigo porto de Sepetiba). A idéia é licitar essa área para interessados em construir um novo estaleiro de grande porte, uma vez que o Brasfles, em Angra dos Reis, está concentrado na execução de plataformas de petróleo offshore.
Para o Rio Naval seria a chance de conseguir uma área adequada para se candidatar à disputa dos 23 navios que a Transpetro vai coloca em licitação no dia 8 de outubro, na segunda fase do programa de reaparelhamento. Machado disse que a área, que precisaria ser vendida em pouco mais de um mês para permitir ao ganhador entrar na disputa dos navios, poderá ser disputada pelos gigantes sul-coreanos STX e Daewoo, que estariam interessados em entrar no mercado brasileiro.
Atrair os coreanos, líderes mundiais em construção naval, é considerado por Machado como essencial na estratégia do governo de desenvolver no país uma indústria naval competitiva internacionalmente, ao contrário de experiências passadas. O Samsung, segundo maior da Coréia do Sul, já possui 10% do estaleiro Atlântico Sul. "É preciso falar a linguagem da competência, não vamos fazer navio a qualquer preço", disse o presidente da Transpetro, justificando a demora para a construção das primeiras embarcações.
Outra batalha em busca da competitividade, segundo ele, é conseguir que o preço do aço brasileiro se equipare ao do mercado asiático. Após o Atlântico Sul comprar uma parte, de 18,5 mil toneladas de chapas navais grossas, na Ucrânia e outra, de 12 mil toneladas, da Usiminas/Cosipa, única fabricante brasileira, Machado foi à China. Ele negocia a entrada de siderúrgicas chinesas, consideradas as mais competitivas do mundo, na próxima tomada de preços, para 10 mil toneladas. A expectativa é de que a entrada dos chineses derrube os preços gerais. Machado considera estratégico para o Brasil e para a Petrobras ter no país uma indústria naval competitiva, até porque a empresa já estuda os efeitos que pode vir a ter o petróleo do pré-sal na ampliação da sua frota.