Título: Mellon cria sistema para fundo aplicar no exterior
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Fonte: Valor Econômico, 29/08/2008, Eu& Investimento, p. D2

Leo Pinheiro / Valor Zeca Oliveira: movimento de consolidação do setor não deve ser muito forte A BNY Mellon lança no dia 1º de setembro um sistema que deve facilitar o investimento de fundos brasileiros no exterior. A iniciativa aproveita a regulamentação que permite que fundos brasileiros em geral tenham 10% dos recursos lá fora, percentual que sobe para 20% no caso dos multimercados e para 100% para carteiras com mais de R$ 1 milhão de aplicação mínima.

A estrutura será formada por um fundo no exterior que receberá aplicações de outras carteiras menores, que receberão o dinheiro dos fundos brasileiros. "Cada fundo brasileiro terá uma carteira exclusiva lá fora, e que aplicará no fundo-mãe", diz Zeca Oliveira, presidente da BNY Mellon Serviços Financeiros, uma das maiores administradoras de fundos do país. O fundo-mãe, então, comprará os títulos e derivativos nos países que o gestor brasileiro quiser.

A estrutura deve começar já com seis a dez gestores locais cadastrados, diz Oliveira, e os primeiros aportes devem ocorrer nas próximas semanas. A vantagem é a redução de custos com o uso da estrutura compartilhada. "Para gestores independentes, que tem menor escala, isso é um grande facilitador", afirma.

Zeca lembra que o Banco Central mudou a regulamentação da área de câmbio para permitir que os fundos possam mandar dinheiro para fora com um sistema próprio. Já com relação à Receita, a estrutura de investimento em fundo no exterior protege a aplicação porque os ganhos e as perdas ficam lá fora com a carteira. "Se fosse aplicar lá fora direto no mercado e tivesse uma perda, o fundo teria de recolher o imposto devido pela contraparte que ganhou", explica Oliveira, lembrando que o investidor que perde tem de recolher o imposto sobre os ganhos pelo não-residente. Isso acontece em derivativos e papéis de renda fixa. Já em ações, isso não é necessário. "Por isso, é provável que os gestores apliquem em ações no exterior diretamente e usem a estrutura de fundos para os outros mercados, especialmente de derivativos e commodities", diz Oliveira.

Antes mesmo da liberação, muitos gestores já faziam aplicações no exterior usando derivativos vendidos indiretamente por bancos internacionais. O banco aplicava lá fora em determinado mercado e fazia um swap (troca de indexadores) com o fundo local. "O problema é a falta de liquidez, porque o gestor dependia do banco", lembra Oliveira.

Recentemente, a BNY Mellon passou por uma reestruturação que separou as áreas de gestão e serviços. José Alberto Tovar tornou-se diretor-geral da gestora do grupo, a BNY Mellon Arx. E Alberto Elias ficou responsável pela BNY Mellon Serviços Financeiros. Zeca Oliveira passou a ser o presidente geral no Brasil.

Responsável pelo acompanhamento de 180 gestores, Oliveira diz que não acredita em um movimento de consolidação do setor muito forte apesar das dificuldades dos multimercados este ano e da forte fuga de recursos. "Mesmo a taxa de mortalidade das carteiras é baixa, pois a maioria das estruturas de gestores independentes é barata, com poucas pessoas, e pode se manter mesmo com um baixo volume de recursos", afirma Oliveira. Já Tovar, da BNY Mellon Arx, observa que os fundos multimercados brasileiros de independentes são muito parecidos em suas estratégias. "Se dois gestores se juntam, um tem de ir embora, porque o trabalho é o mesmo", diz ele. Isso só deve mudar quando houver uma diversificação maior do mercado brasileiro, com o aumento da liquidez em outros ativos além de títulos do governo e ações de primeira linha.