Título: Mercado de banda larga móvel atrai fabricantes
Autor: Magalhães, Heloisa; Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2008, Tecnologia & Telecomunicações, p. B3

A Nokia, maior fabricante mundial de telefones celulares, admite que cometeu um erro estratégico no Brasil: demorou para começar a oferecer modems à banda larga móvel, afirma o presidente da empresa no país, Almir Narcizo.

A companhia finlandesa tem 12 modelos de celulares que permitem a conexão dos computadores à internet sem fio, mas ficou de fora daquele que vem sendo o grande atrativo das redes de terceira geração da telefonia móvel (3G). Para corrigir a falha, a Nokia planeja sua entrada no segmento, embora esse movimento ainda não tenha data para ser feito.

Mais do que aparelhos de celular, são as placas de conexão à web que estão dando o tom na 3G. A mesma tendência verificou-se no mercado europeu, onde as operadoras tiveram mais sucesso, na terceira geração, com a banda larga do que com os serviços de voz e dados por meio do telefone.

O resultado disso é que a procura pelos modems para ligar o computador à rede de terceira geração está sendo maior do que se previa e começa a atrair o interesse de novos fabricantes. Motorola e LG são dois exemplos de empresas que vão começar a produzir as placas.

A Motorola planeja lançar seus modelos no fim deste ano ou no começo de 2009. Edson Bortolli, diretor de produto e tecnologia, afirma que a empresa está trabalhando na adequação das interfaces do produto para operadoras como Claro e Vivo.

O interesse dos fabricantes tem justificativa. As conexões de banda larga via rede de celular estão crescendo rapidamente no Brasil. No fim de junho, havia 1,3 milhão de usuários de internet móvel no país, segundo levantamento da empresa de pesquisas IDC.

A chinesa Huawei, maior fornecedor das placas sem fio, trabalha com a expectativa de que os acessos móveis superem o número de conexões de banda larga fixa, no Brasil, até 2011.

"Como o Brasil tem dimensões continentais, a rede fixa tem pouco alcance. Tem muitas regiões descobertas e, nesses locais, a infra-estrutura móvel é a opção mais barata", observa o diretor de tecnologia da Huawei, Marcelo Motta.

Segundo ele, a Huawei vendeu 800 mil modems de acesso à internet móvel no Brasil no primeiro semestre deste ano. O executivo afirma que a empresa tem algo entre 60% e 70% do mercado.

Os primeiros lotes comercializados foram de placas importadas. Porém, de acordo com Motta, a demanda justificou a produção local, que está sendo feita desde março. A projeção da Huawei é de que o Brasil feche 2008 com 2 milhões de linhas ativas de banda larga móvel.

"Já tínhamos a expectativa de que a procura seria alta, mas no início não sabíamos como seria a estratégia de atuação das operadoras de telefonia móvel", diz.

Até a SonyEricsson - que costuma apoiar sua estratégia em telefones com grande apelo de marca - rendeu-se às placas de acesso à web. E escolheu um caminho onde a marca não é determinante. "Estamos vendendo nossos modelos por meio das operadoras", afirma a diretora de marketing da empresa, Flávia Molina.

Segundo a executiva, a venda das placas supera a dos modelos de aparelhos de celular 3G lançados pela SonyEricsson - a empresa colocou no mercado oito telefones até agora.

Em muitos casos, os compradores dos modems são pessoas que vivem em áreas onde ainda não existe rede de 3G. Nesse caso, as placas funcionam no padrão GSM, que tem velocidade parecida com a de uma linha discada.

Na comparação com um telefone convencional, muitas vezes o modem atrai a preferência daqueles que apenas querem uma forma de acessar a internet por meio do PC, avalia o consultor Eduardo Tude, da Teleco. Esses clientes assinam, com a operadora, um pacote que dá direito a usar determinado volume de dados. "Acaba saindo mais barato", afirma.

Para as operadoras, o negócio também é vantajoso. Faz anos que as teles buscam alternativas para elevar a receita com transmissão de dados - mais rentável do que os serviços de voz.

A TIM apoiou o lançamento de sua rede de terceira geração numa estratégia fortemente apoiada na banda larga. O presidente da operadora, Mario Cesar Pereira de Araujo, afirma que as vendas dos pacotes de serviços que incluem os modems estão 50% acima do volume esperado.

Por conta disso, a companhia passou a vender computadores em suas lojas. São notebooks da HP que já vêm com o modem 3G embutido. O cliente leva junto um pacote de acesso à rede de dados, mediante um contrato de fidelidade com a operadora.

A TIM vende modems fabricados por Huawei e Onda. A rede de terceira geração da operadora está disponível, por enquanto, em 22 cidades das principais regiões metropolitanas do país.

A Onda, de origem italiana, foi criada em 2004 e chegou ao Brasil no ano passado. A empresa desenvolve produtos com apoio de parceiros chineses. Na Itália, é a maior fornecedora de equipamentos para serviços de dados da Telecom Italia e atende também as operadoras Vodafone e Hutchinson.

A Onda já importou 80 mil unidades e, em maio, começou a produzir um modelo de placas no Brasil, por meio de um contrato de terceirização com a Celestica.

Segundo Bruno Giacometti, gerente de produtos, a empresa está entregando mais de 30 mil placas por mês e a expectativa é de fechar o ano com algo entre 250 mil e 300 mil unidades. O número não inclui os modelos que continuam sendo importados.

Giacometti diz que as vendas estão 50% maiores do que a empresa previa. Com os resultados colhidos até agora, a Onda está começando a entrar no mercado de computadores portáteis. Até o fim do ano, o produto passará a ser fabricado no Brasil. Segundo o executivo, custará em torno de R$ 1 mil e já virá com um modem de 3G embutido.

O grupo Evadin, dono da marca Aiko, foi um dos primeiros a chegar ao mercado de placas para conexão à internet móvel. As vendas começaram a ser feitas para a Vivo, anos atrás, quando esta lançou um modem para captar sua rede no padrão CDMA. A operadora tem cerca de 500 mil assinantes do serviço.

Agora, a Vivo tem novos planos para a área. Elder Miguel, diretor de telefonia da Aiko, afirma que a empresa será fornecedora dos modems para a Vivo na versão 3G (a operadora ainda não lançou sua rede na tecnologia HSDPA). O executivo não revela números, mas afirma que a Evadin vai ampliar a capacidade de produção de sua fábrica, em Manaus.