Título: Imcopa planeja investir US$ 250 milhões e ampliar venda no mercado doméstico
Autor: Lima, Marli
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2008, Agronegócios, p. B12

Ivonaldo Alexandre/Valor "Se fizermos o que as multinacionais fazem, não temos como competir", diz o diretor operacional, Enrique Traver A Imcopa, uma das maiores indústrias de derivados de soja não-transgênica do mundo, congelou o lançamento de ações no mercado, mas não desistiu de seu plano de investimentos, que deve chegar a US$ 250 milhões em cinco anos. A primeira parte do projeto, estimada em US$ 50 milhões em três anos, está em andamento e será feita com recursos próprios.

Sem o dinheiro do IPO, a empresa acelerou a meta de aumentar a participação das vendas internas no faturamento para conseguir recuperar créditos acumulados em impostos. Antes, ela exportava 90% do óleo de soja que produzia, mas decidiu ampliar a capacidade de refino, e metade da produção passará a ser negociada no varejo brasileiro.

Atualmente a Imcopa processa 2,2 milhões de toneladas de soja e refina 70% do óleo que produz. Com a nova estratégia, a empresa passará a refinar 100% da produção, ou cerca de 450 mil toneladas de óleo de soja por ano.

Para isso, investiu US$ 8 milhões na unidade de Araucária e US$ 4 milhões na planta de Cambé, no norte do Paraná - sem contar o aporte em linhas de envase, que estão sendo feitos por parceiros. A venda local saltará de 4,5 mil toneladas por mês para 22,9 mil toneladas em abril de 2009, e a empresa deixará de vender óleo bruto para apostar em sua marca Leve, cujo rótulo conterá a informação de origem não-transgênica.

A opção por atuar no mercado de não-transgênico marcou uma nova fase na história da Imcopa, que foi fundada em 1964 e é presidida por Frederico Busato Júnior. "Sobrevivemos até 1998 sendo igual a todo mundo, mas processávamos 250 mil toneladas de soja", lembra o empresário, para mostrar como o volume teve um salto quando a empresa apostou no grão convencional, que ela transforma em lecitina, óleo e farelo. "Se fizermos o que as multinacionais fazem, não temos como competir. Somos pequenos", afirma o diretor operacional, José Enrique Traver.

Como a demanda por grãos convencionais é forte na Europa e Japão, a Imcopa incrementou as exportações. "Não se trata de ideologia, mas de mercado", avisa Traver. Segundo ele, no mercado brasileiro o óleo da Imcopa terá inicialmente o mesmo preço que o dos concorrentes, embora a empresa pague um prêmio (não revelado) para conseguir a matéria-prima convencional. A intenção é testar a reação do consumidor das regiões Sul e Sudeste do país.

A ampliação nas vendas internas não é a única mudança em curso na empresa, que sempre foi discreta e agora mostra-se disposta a aparecer mais, inclusive com ações de marketing em supermercados.

O empresário Busato Júnior, de 69 anos, admitiu que está em curso o processo de sucessão, embora ainda não tenha planos de deixar o cargo. "Me acho ainda bastante produtivo", disse. Mas seu sobrinho, Francisco Busato, 39, também acionista da Imcopa, deixou a medicina há dez anos para ser preparado para assumir no futuro o comando da companhia que deve faturar US$ 1,6 bilhão em 2008.

A Imcopa também faz álcool de soja para uso interno. A produção é de três milhões de litros por ano, volume que poderá subir para 200 milhões de litros anuais caso a empresa faça investimentos na área. "Estamos trabalhando em produtos que fogem da soja", explica Traver.

Um desses produtos é o óleo de algas marinhas para alimentação de salmão, em substituição ao óleo de peixe. O executivo disse que a Imcopa já selecionou quatro espécies de algas (duas do Brasil e duas do exterior) para pesquisas em unidade-piloto que custará US$ 10 milhões. Segundo ele, algumas espécies podem dar 100 vezes mais óleo por hectare que a soja.

No caso do grão, a empresa vai ampliar a estrutura de moagem em Araucária e Cambé, para elevar a capacidade em 300 mil toneladas por ano. Conforme Traver, há sobras no caixa para bancar os projetos. Busato Júnior contou que sempre coloca em prática o que aprendeu com o pai. "Pegue dinheiro [emprestado] para capital de giro, nunca para investir", citou.