Título: Dilma nega falta de controle do governo
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 03/09/2008, Política, p. A10

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, defendeu ontem o afastamento da cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) como forma de garantir a lisura das investigações sobre a denúncia de escuta ilegal de telefonemas do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. A ministra negou que o governo esteja vivendo uma crise institucional e recusou a hipótese de que há falta de controle do governo federal sobre as ações de órgãos subordinados a ele.

"O afastamento foi uma medida para assegurar a investigação", disse a ministra ontem, em São Paulo. "Não existe a menor crise institucional." Dilma classificou como " um absurdo" a espionagem da Abin no STF, mas ressaltou que é preciso garantir o direito de defesa dos suspeitos de envolvimento no caso. A ministra disse que não tem certeza se foi alvo das escutas telefônicas e que as informações que teve acesso foram as divulgadas pela imprensa.

Com uma posição um pouco mais polêmica, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) considera que "é preciso botar na cadeia um bocado de gente importante que fez isso". O deputado aprovou o afastamento da alta diretoria e declarou: "(Precisa) pegar meia dúzia de branco aí e pôr na cadeia, através do devido processo legal, naturalmente" depois de participar de um evento promovido pela revista "Veja".

"Foi um episódio deplorável", comentou ontem o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). "Ele fere a democracia. É um insulto à democracia a existência de forças paralelas clandestinas fazendo esse trabalho de escuta", complementou o governador tucano. "É um problema institucional. Acho que tem de ter mudanças legais a esse respeito, que tragam mais proteção à sociedade contra atos clandestinos."

O ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos considera "uma questão de honra" para o governo federal o o esclarecimento do caso. "Imagino que o esclarecimento vai acontecer pela investigação da Polícia Federal, junto ao Ministério público Federal", disse. "É preciso investigar. É fundamental que se respeite a presunção de inocência das pessoas e que se trabalhe no sentido de desvendar e que se puna exemplarmente", resumiu.

Com opinião semelhante, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, analisou como "fundamental" a punição aos envolvidos na escuta ilegal. "Não basta mostrar o que aconteceu, tem que punir criminalmente quem ultrapassou seus deveres", comentou. Britto considera que é preciso investigar e divulgar a motivação dos responsáveis pela espionagem e considerou como positiva a atitude do governo. "O afastamento da cúpula da Abin é um bom sinal. Mostra que o governo quer resolver essa crise e que quer resolver com ação, não só no discurso", afirmou.

O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), reforçou o pedido ao governo de uma investigação rigorosa, com a punição dos culpados.

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), lembrou episódios semelhantes de escutas ilegais na Bahia e disse ter sido vítima durante o período militar. Estou acompanhando com apreensão mas ao mesmo tempo com tranqüilidade. Nós, na Bahia, já tivemos esse trauma em tempo anterior. " Não há nada mais sagrado na democracia do que a inviolabilidade do lar e da privacidade. Quem já sofreu como eu sofri na época do governo militar sabe o quanto isso é caro para a democracia", comentou. Wagner considera a situação como inadmissível e pediu a apuração do caso "para que não se condene equivocadamente alguém".