Título: O Brasil está em alta
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 08/03/2011, Mundo, p. 15

POPULARIDADE

O Brasil foi o país que mais conquistou a simpatia do mundo no último ano. A constatação é de uma pesquisa encomendada pela rede britânica BBC, e realizada em 27 países dos cinco continentes. Segundo o levantamento, 49% dos mais de 28 mil entrevistados consideram que o Brasil tem uma influência positiva no mundo, contra 40% que votaram assim em 2010. Para os autores da pesquisa, o crescimento é justificado pela grande popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas principalmente pela cobertura ¿extensa e muito positiva¿ da imprensa internacional sobre o ¿êxito da transição democrática¿ de seu governo para Dilma Rousseff. Os Estados Unidos também melhoraram sua imagem pelo terceiro ano consecutivo, e o responsável seria ainda o ¿fenômeno Obama¿.

O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, creditou, em entrevista à BBC, a melhora na imagem do Brasil a um modelo que associa ¿democracia com crescimento inclusivo, geração de emprego e uma forma de interagir com o resto do mundo que é baseada em soluções diplomáticas¿. Doug Miller, presidente da empresa GlobeScan, que promoveu a sondagem com o Programa de Atitudes Políticas Internacionais da Universidade de Maryland, por sua vez, considera que o sucesso das políticas internas no Brasil também contribuíram para sua imagem global. ¿Muito da atenção da mídia internacional tinha o foco no sucesso de Lula e em sua popularidade, mas também nos avanços econômicos e sociais do Brasil durante seu mandato¿, disse Miller ao Correio.

Reputação Para Peter Hakim, presidente do Inter-American Dialogue, é ¿impossível¿ separar a imagem de Lula e a do Brasil durante o seu governo. ¿Lula é uma figura extraordinariamente carismática e um monte de coisas boas aconteceram no Brasil no seu mandato ¿ algumas devido à sua liderança, algumas apesar dela, e outras independentemente de Lula¿, disse. Hakim ainda acredita que a escolha do Brasil para sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, além da descoberta da camada do pré-sal, ajudaram a consolidar uma boa imagem do país. ¿E uma vez que um país recebe uma boa reputação, qualquer notícia publicada sobre ele é presumidamente positiva¿, observa.

Apesar de ser reconhecidamente menos carismática que o antecessor, Dilma também tem seu apelo, segundo Miller. ¿Nós acreditamos que a eleição da primeira presidente mulher também foi responsável pelas opiniões positivas na pesquisa. Mas tudo dependerá de como ela vai governar. Qualquer grande reversão enorme no progresso social e ambiental no Brasil pode ser prejudicial¿, avalia. O Brasil é bem-visto na maioria dos 27 países pesquisados, principalmente entre os latino-americanos. A exceção é a Alemanha, onde 32% consideram a influência do país negativa e 31%, positiva. Na China, a imagem também não é tão favorável: 45% dos entrevistados acham que o país tem um papel positivo, contra 41%, que o consideram negativo. Em 2010, os índices foram 55% e 16%, respectivamente.

No Brasil, a imagem dos Estados Unidos mostrou-se bem melhor às vésperas da vinda do presidente Barack Obama. Em 2010, 55% consideravam positiva a influência de Washington no mundo. Neste ano, o índice chegou a 64%. A imagem negativa, por sua vez, caiu de 35% para 21%. A tendência para os Estados Unidos é a mesma em todo o mundo. Segundo o levantamento, quase metade (49%) dos entrevistados classificou bem o papel americano no mundo. Há três anos, apenas 28% disseram aprovar a influência americana. Hoje, apenas 20% ¿ a maioria em países majoritariamente muçulmanos ¿ consideraram ¿negativa¿ sua atuação, contra 52% em 2007.

¿Atribuímos o crescimento da aprovação dos EUA por três anos consecutivos à consolidação do efeito Obama¿, assegurou Miller. O americano Hakim concorda: ¿Indiscutivelmente, o crédito é todo de Obama. Olhe para a América Latina. Bush disputou com Chávez o título de líder menos querido.¿ O especialista, porém, acredita que há uma possibilidade de recaída se Obama errar a mão com a Líbia. ¿Uma intervenção militar seria um verdadeiro golpe para os EUA e para Obama. Mas eu acho que as chances, por enquanto, são mínimas. Obama está sendo muito cauteloso.¿

Michelle é preferência Se Barack Obama ajudou a melhorar a imagem dos Estados Unidos mundo afora, sua mulher, Michelle, é a mais popular dentro do país. Segundo uma pesquisa da Universidade Quinnipiac, feita com 1.887 eleitores americanos, Michelle é o nome visto com mais simpatia. No ¿termômetro dos sentimentos¿, ela aparece com 60,1 graus (de um máximo de 100 graus), contra os 56,5 graus alcançados pelo marido, que ficou em quarto lugar. Entre os dois, figuram o ex-presidente Bill Clinton, que ficou em segundo lugar, e o popular governador republicano de Nova Jersey, Christopher Christie, que era quase desconhecido há um ano. O também ex-presidente George W. Bush ficou com 43,9 graus, à frente da ex-governadora do Alasca e musa republicana, Sarah Palin, no termômetro. A pesquisa foi realizada de 21 a 28 de fevereiro.