Título: Ministros do Supremo cobram explicações
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 03/09/2008, Política, p. A11

José Cruz/ABr Diretor da PF vai ao Supremo: "A PF está pronta para fazer uma investigação na medida do que a sociedade espera" O afastamento da cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) não foi a resposta esperada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para pôr fim à crise das escutas telefônicas na Corte. Os ministros querem saber as circunstâncias exatas em que ocorreu o grampo, quem realizou a escuta, como ela foi planejada, a interesse de quem e por quê foi realizada. Eles consideraram o episódio gravíssimo e concluíram que não dá para trabalhar sob o estigma de que suas conversas telefônicas estão sendo interceptadas por grupos ou facções dentro dos órgãos de inteligência do governo.

Para os ministros, não bastam saídas políticas, como o afastamento temporário de Paulo Lacerda da diretoria-geral da Abin. Eles não estão interessados em demissões, nem em "cortes de cabeças" de altos funcionários do governo; querem apenas respostas concretas. Quem fez o grampo e por quê?

O diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, esteve ontem no STF para dizer ao presidente da Corte, ministro Gilmar Mendes, que está trabalhando internamente para obter essas respostas. Numa atitude de deferência ao tribunal, Corrêa apresentou a Mendes cinco altos funcionários da PF que irão conduzir o inquérito sobre o grampo no STF. São eles: o diretor-executivo da PF, Romero Menezes; o diretor de combate ao crime organizado, Roberto Troncon Filho; o diretor de inteligência, Daniel Lorenz; e os delegados Willian Marcel Morad e Rômulo Berredo, responsáveis diretos pelo inquérito.

Corrêa também enfatizou ao ministro que a PF continua na apuração das circunstâncias em que foi vazado o nome de um homônimo seu, após a Operação Navalha, em maio de 2007. O episódio desgastou muito a imagem da PF no tribunal. Após a deflagração da Operação Navalha, foi divulgado à imprensa que Gilmar Mendes estaria na lista de beneficiados da construtora Gautama, suspeita de corrupção junto a órgãos públicos. Mas tratava-se de Gilmar de Melo Mendes, um engenheiro, e não de Gilmar Ferreira Mendes, o presidente do STF. Ao ser informado sobre a divulgação de seu nome, Mendes qualificou o fato de "canalhice" e reclamou, na época, de "métodos fascistas" da PF.

Ontem, o presidente do Supremo ouviu atentamente as explicações de Corrêa. Mas, de forma geral, o STF está cético com relação à PF e quer respostas diretas e não promessas de que tudo será resolvido.

"Vim colocar a polícia à disposição", afirmou Corrêa aos jornalistas, ao sair do prédio do STF. "A PF está pronta e preparada para fazer uma investigação na medida do que a sociedade espera", completou. O diretor-geral da PF ressaltou que Mendes poderá designar funcionários do STF para acompanhar as investigações. "Que seja uma investigação o mais transparente possível e com o maior rigor técnico", reiterou Corrêa.

Mendes terá de prestar depoimento no inquérito, já que foi vítima de escutas telefônicas. Um diálogo dele com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) foi interceptado em 15 de julho, uma semana depois do início da Operação Satiagraha. Corrêa explicou que caberá a Gilmar Mendes definir a data e a hora do depoimento. Essa é uma prerrogativa legal dos ministros da Corte. "O ministro foi vítima do fato tido como ilegal da interceptação do seu contato telefônico. Ele terá que ser ouvido e será feito um agendamento de acordo com a sua assessoria", disse Corrêa.