Título: Pré-sal domina discurso de Dilma em São Bernardo
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 03/09/2008, Política, p. A12

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, desembarcou ontem em São Bernardo do Campo (SP), berço político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para participar do lançamento da campanha do candidato petista a prefeito da cidade, o ex-ministro do Trabalho Luiz Marinho. Embalada pelo lançamento horas antes da primeira extração simbólica de petróleo da camada pré-sal, ocorrida no litoral sul do Espírito Santo, Dilma centrou seu discurso nas possibilidades que o pré-sal podem trazer ao país, inclusive a São Bernardo..

"Somos abençoados porque descobrimos o pré-sal. Queremos que a maior parte desta riqueza fique no Brasil. Temos que produzir aqui navios, equipamentos, plataformas. Isso significa que São Bernardo pode ser um novo pólo de equipamentos petrolíferos. Essa riqueza toda tem que voltar na forma de qualificação de ensino".

Dilma tentou explicar a razão do nome "pré-sal" e sua dimensão. "O geólogo olha de baixo para cima (...) Se imaginar o Himalaia, é a mesma altura, só que dentro do mar". Sua fala circulou ainda por temas e feitos diversos ligados a áreas sociais do governo Lula. Programas de transferência de renda, habitação, concessão de crédito, educação, entre outros, sempre afirmando que o país passa por uma transformação social. A ligação com o pré-sal era feita a partir da idéia de que "o petróleo só resolve aquilo que já começou (a ser feito)".

Antes do discurso, Dilma fez uma gravação improvisada em uma sala atrás do auditório em que ocorreu o lançamento. Ao lado do candidato petista a prefeito de Diadema, Mario Reali, disse, após algumas tentativas frustradas, que o PAC será desenvolvido no município. Já longe da câmera, comentou: "Não sei se ficou bom. Estou muito cansada. Eu faço melhor, viu?"

Antes dela, o senador Aloizio Mercadante discursava e foi interrompido por estudantes que entraram no auditório e começaram a xingar. "Ô Mercadante ladrão, fala dos seus roubos aí", disse um deles. A platéia, estimada em 700 pessoas, majoritariamente ligada aos onze partidos que compõem a coligação, levantou-se e começou a cantar "Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula". Os estudantes foram retirados do local, mas a confusão continuou do lado de fora, com empurrões e sopapos, enquanto Dilma iniciava o discurso. As janelas, então, foram fechadas para que o barulho não a atrapalhasse.

A ministra encerrou seu discurso com uma frase do livro "O Povo Brasileiro", do antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), que compara o país a "uma nova Roma, lavada em sangue negro e sangue índio, destinada a criar uma esplêndida civilização, mestiça e tropical. Mais alegre, porque mais sofrida, e melhor, porque assentada na mais bela província terrena".