Título: Grupos já estudam linhão do Madeira
Autor: Goulart, Josette
Fonte: Valor Econômico, 03/09/2008, Empresas, p. B7
Com pouco mais de dois meses de atraso em relação ao cronograma inicial, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve finalmente publicar, na próxima semana, o edital do leilão das linhas de transmissão da energia gerada no rio Madeira. Os investimentos previstos podem variar entre R$ 5 bilhões e R$ 7 bilhões e, devido a envergadura da empreitada, o governo vai dividir o linhão em sete lotes. As empresas de transmissão já preparam parcerias para encamparem a obra que vai ligar as usinas de Santo Antônio e Jirau ao Sistema Integrado Nacional. A expectativa é de que os grupos estrangeiros entrem com propostas agressivas para levar os lotes.
O presidente da Companhia de Transmissão Paulista (CTEEP), que pertence à colombiana ISA, Sidnei Martini, disse que a empresa vai participar fortemente do leilão e que está analisando a possibilidade de formar um consórcio. A CTEEP é forte candidata a arrematar muitos lotes em função da sua capacidade de endividamento. O último balanço da companhia mostra endividamento de 17% sobre o capital, quando existe a possibilidade de chegar a 50%, segundo o próprio presidente da CTEEP.
Em função de endividamento, o analista do setor de energia elétrica do Unibanco, Marcos Severine, prevê que a italiana Terna Participações dê lances mais modestos. Isso porque a empresa já atingiu os 50% de endividamento sobre o capital. "Uma opção seria lançar novas ações na bolsa de valores, o que acabaria fortalecendo a liquidez da Terna que hoje é baixa", diz Severine, lembrando que levantar recursos com ações é mais caro do que tomar empréstimos.
Entre as empresas espanholas que estão ganhando destaque nos leilões de transmissão no país aparecem a Abengoa, dona da ATE Transmissão, e a Isolux. A última informa em seu balanço anual na Espanha que já é dona de 10% do mercado de transmissão do Brasil. Tem 3,3 mil quilômetros de linhas construídas e outros 3,3 mil em construção. Os investimentos diretos da Isolux no Brasil somam ? 700 milhões, segundo o relatório anual da companhia. Já a Abengoa tem atualmente 2.869 quilômetros de linhas e outros 922 em construções e informa, em seu balanço na Espanha, investimentos de US$ 1,88 bilhão no país.
Também as estatais preparam-se para a disputa. A Eletronorte, empresa da Eletrobrás, fez uma chamada pública em busca de parceiros. A Cemig não fala sobre o leilão de transmissão, mas no anúncio dos resultados do balanço do segundo trimestre divulgou que está ampliando em R$ 500 milhões os investimentos previstos para este ano em transmissão. Além disso, no último dia 19 de agosto, foi oficializada no Diário Oficial Empresarial de São Paulo a constituição da Empresa Brasileira de Transmissão de Energia que nasce com capital de R$ 110 milhões e entre os sócios tem a Empresa Amazonense de Transmissão de Energia (que pertence à estatal mineira) e a própria Cemig, além de uma dezena de sócios pessoas físicas.
Mesmo com o imbróglio que hoje envolve os consórcios vencedores do leilão das usinas hidrelétricas do Madeira, o processo de licitação da transmissão não deverá sofrer grandes atrasos, na avaliação do presidente da CTEEP, Sidnei Martini. Para ele, o governo não pode arriscar um atraso na construção das linhas que assim podem não ficar prontas em 2012, quando as usinas ficam prontas.
A Aneel deveria ter deliberado sobre o edital na reunião pública de ontem, mas acabou optando por adiar para a próxima semana. Isso porque o Tribunal de Contas da União (TCU) ainda precisa dar um último aval à minuta do edital, que deve acontecer no dia 10 de setembro. Os diretores da Aneel decidiram então realizar uma reunião extraordinária no dia 11, somente para deliberar sobre o edital. No projeto que foi entregue pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estão previstas duas alternativas. Uma prevê o uso de corrente contínua, que ligaria diretamente Porto Velho à Araraquara, mas sem capacidade de ligar usinas no meio do caminho. A outra alternativa é um projeto híbrido que envolve duas linhas, uma de corrente contínua e outra de corrente alternada, que permite que a rede seja ampliada futuramente. O vencedor do leilão poderá optar entre uma das duas tecnologias, na proposta da EPE.