Título: Redução de emissões precisa de incentivo fiscal
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2008, Internacional, p. A9

Economias de baixo carbono, adaptadas ao futuro mais aquecido do planeta, dependerão de engenharia tributária para decolar. Produtos ambientalmente mais eficientes, que gastem menos energia ou usem menos recursos naturais, custarão inevitavelmente mais. Para tornar a conta mais atraente ao consumidor, o poder público terá que flexibilizar a arrecadação e oferecer algum tipo de incentivo fiscal. As sugestões partem da outra ponta do tripé - dos empresários.

Neste caso específico são britânicos. Estão num meticuloso estudo da Confederação das Indústrias Britânicas, a CBI, sobre o aquecimento global e seus desafios para o mercado. "Mudanças climáticas: um assunto do interesse de todos", será lançado hoje em São Paulo. Nele se lê que os consumidores, através de suas decisões pessoais, controlam diretamente ou influenciam 60% das emissões no Reino Unido - desde a escolha do meio de transporte ao aparelho elétrico que preferem usar ou à forma de esquentar e iluminar a própria casa. "Mas, claro, a consciência do consumidor não será suficiente para enfrentar o problema", diz Martin Broughton, presidente da CBI, ao Valor, em entrevista por e-mail. "É por isso que estamos pedindo para que se pense numa reforma tributária no Reino Unido", continua.

"O sistema que existe hoje é antigo e não reflete o rumo de uma economia de baixo carbono", justifica. O estudo sugere que se dê algum tipo de incentivo fiscal para as pessoas que investirem em sistemas mais eficientes de isolamento térmico em casa, por exemplo. O período de amortização de uma escolha mais ecológica deste tipo pode chegar a cinco anos, muito longo para a maioria. Com algum mecanismo fiscal, a decisão se torna mais sedutora. Já funciona assim na Espanha e na Itália, com alguns eletrodomésticos.

"Achamos que este sistema também poderia ser adotado no Reino Unido." No mercado britânico já existem rótulos que indicam a eficiência energética das geladeiras, num ranking que vai de A (a mais eficiente) a G (a lanterninha). Com o tempo, diz ele, a preferência dos consumidores fez com que a maioria das geladeiras do mercado fosse do tipo A. "O interessante é que, com a economia desacelerando, os consumidores estão buscando aparelhos elétricos mais eficientes e analisando quanto dinheiro vão poupar na conta de luz."

A aviação é outro setor que persegue cortes maiores nas emissões de gases do efeito-estufa - reduzir pela metade as emissões por passageiro/por km entre 2000 e 2020. Broughton fala do assunto de carteirinha, é o chairman da British Airways. Ele diz que a meta vem sendo alcançada através de mudanças no design e na produção de aviões ambientalmente mais "limpos". O mega Airbus A380 e o Boeing 787 Dreamliner, diz ele, emitem entre 20% e 50% menos que os aviões mais velhos, que terão desaparecido em 2020.

Empresas como a BA, continua, têm feito lobby junto aos governos para conseguirem rotas mais eficientes - uma revisão no espaço aéreo da União Européia poderia significar um corte nas emissões de CO2 de 12%. A British Airways, diz Broughton, deixou de emitir 60 milhões de toneladas de CO2 desde 1990, com um combustível menos poluente. Para emitir menos, os aviões da empresa seguem técnicas como taxiar com apenas uma das turbinas.