Título: Faturamento e uso da capacidade são recordes na indústria
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2008, Brasil, p. A2
O segundo semestre começou com forte expansão da indústria, impulsionada pelo aquecimento da demanda doméstica, sustentando recorde de faturamento em julho e permitindo crescimentos expressivos na atividade, no emprego e na massa salarial, segundo cenário traçado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os economistas da entidade alertam, porém, para a perspectiva de desaceleração que deve ocorrer, ainda este ano, com os impactos da elevação dos juros e da redução do ritmo já verificada na Europa e Japão.
Os indicadores industriais divulgados pela CNI mostram que a atividade (horas trabalhadas) cresce há 12 meses consecutivos e o emprego tem expansão há 32 meses seguidos na série com ajuste sazonal e considerando a variação sobre o mês anterior. De janeiro a julho, o faturamento deu salto de 9% (recorde) sobre o mesmo período em 2007. As horas trabalhadas cresceram 6,1%, o emprego ampliou-se 4,4% e a massa salarial foi 5,6% maior. Em julho, o uso da capacidade instalada teve aumento de 0,2 ponto percentual sobre junho, chegando a 83,5%.
Considerando apenas julho e a comparação com o mesmo mês do ano passado, as variações medidas pela CNI foram ainda maiores que as dos primeiros sete meses do ano. O faturamento foi 13,2% maior, as horas trabalhadas cresceram 7,2%, o emprego ampliou-se 4,4% e a massa salarial aumentou 5,7%.
O desempenho de julho surpreendeu os economistas da entidade, Flávio Castelo Branco e Paulo Mol. Eles tinham projetado alguma desaceleração para o início do terceiro trimestre, mas a previsão não foi confirmada. Mol ressaltou que a regularidade no crescimento, que vem se repetindo há vários meses consecutivos, é mais importante que os aumentos percentuais verificados nos indicadores. "Apesar do câmbio desfavorável, o faturamento do segundo semestre começa em patamar maior que o de junho, que já era alto. O ritmo de expansão está mais próximo dos dois dígitos", comentou Mol.
Em julho, o uso da capacidade instalada da indústria subiu pelo segundo mês consecutivo, chegando a 83,5%. "Não há pressão sobre preços industriais, mas o uso está alto", admitiu Castelo Branco. Para os economistas da CNI, o setor privado vem investindo para acompanhar o aumento da demanda interna e, portanto, não há preocupação. Eles argumentaram que as horas trabalhadas na indústria (atividade) vêm crescendo há 12 meses seguidos, mas, nesse período, o uso da capacidade vem mantendo certa estabilidade. "Sem investimento, isso não teria ocorrido, mas é preciso continuar investindo", avaliou o economista.
O faturamento da indústria, em julho, foi, segundo a CNI, maior e mais disseminado. Neste ano, a entidade informou que o indicador não teve crescimento apenas em março e abril. Além disso, a elevação de 9% no período janeiro-julho teve como comparação uma base alta. Nos primeiros sete meses de 2007, já tinha sido registrado crescimento de 5,3% no faturamento.
Dos 19 setores medidos pela CNI, 17 tiveram aumento no faturamento no período janeiro-julho. Madeira (-9,1%) e produtos químicos (-7,2%) foram os dois que perderam vendas. Os três destaques positivos, em 2008, foram os segmentos de veículos automotores (23,8%) , material eletrônico e de comunicação (23,1%) e outros equipamentos de transporte (22,5%).
Nas horas trabalhadas em 2008, apenas quatro segmentos industriais tiveram recuo na atividade: vestuário (-3,1%), couros/calçados (-3,7%), madeira (-11,3%) e refino/álcool (-14%). Os 12 meses consecutivos de expansão da atividade representam o período mais longo de desempenho positivo desde 2003. Os melhores resultados foram obtidos nos segmentos outros equipamentos de transporte (29,5%), máquinas e equipamentos (14,4%), máquinas, aparelhos e material elétrico (12,5%) e veículos automotores (12,2%). Castelo Branco comentou que, nos meses de maior inflação, a redução da renda real dos consumidores prejudicou alguns setores. Como exemplo, disse que a cesta básica chegou a ter preços 30% maiores.
O emprego industrial vem se expandindo há quase três anos (32 meses seguidos), mas os piores desempenhos são dos segmentos que perderam muito com o câmbio: vestuário (-4,7%), couros/calçados (-1,5%), madeira (-11,3%) e material eletrônico e de comunicação (-2%). Os maiores crescimentos do emprego verificados pela CNI no período janeiro-julho foram de 21,5% (outros equipamentos de transporte), 13% (máquinas e equipamentos), 9,6% (veículos automotores), 8,5% (máquinas, aparelhos e material elétrico) e 6,1% (produtos de metal).
Na avaliação de Castelo Branco, esse aumento expressivo do emprego é "novidade" na história recente do país. Citou que o Plano Real, no início dos anos 90, permitiu crescimento, mas com perda de empregos. "Agora, o desafio é a qualificação da mão-de-obra. Pesquisa da CNI já teve sinais de reclamações de empresários que tiveram aumento de custos para treinamento de empregados, o que tira competitividade internacional", disse.
A expansão de 5,7% na massa salarial da indústria, em julho, foi a maior do ano. De janeiro a julho, os maiores crescimentos foram nos segmentos de outros equipamentos de transporte (15,6%), veículos automotores (11,8%) e máquinas e equipamentos (11,7%). Os destaques negativos ficaram com madeira (-7,3%), vestuário (-2,5%), couros/calçados (-2,3%) e edição/impressão (-0,4%).