Título: Pré-sal exige uma estratégia de longo prazo, diz Velloso
Autor: Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2008, Brasil, p. A4

O petróleo da camada pré-sal pode tornar-se uma 'caixa de pandora', na avaliação do ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso. Segundo a lenda grega, quando Pandora abriu a caixa, todos os males da humanidade foram liberados ao mundo. "No fundo da caixa só restou uma coisa, a esperança", disse Velloso em apresentação ontem no Fórum Nacional, no Rio, um evento organizado por ele há 20 anos.

Para o economista, é preciso adotar uma estratégia de longo prazo com planejamento detalhado sem modificar a legislação ou desrespeitar os atuais contratos na área. "Negociação, sim. Desapropriação, não", disse Velloso, que se diz a favor de mudanças por meio de decreto.

Além da Petrobras, que anunciou a descoberta, petrolíferas estrangeiras, como Shell e Galp, têm blocos sob concessão no pré-sal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já afirmou a intenção de modificar a Lei do Petróleo e diminuir a participação das empresas nos negócios do pré-sal, sem apresentar detalhes. O governo também já pensou em criar uma nova estatal somente para controlar a exploração do pré-sal, sem a participação de outras empresas.

Os recursos do petróleo do pré-sal, cobiçados por governadores e ministros, segundo Velloso, devem ser destinados ao desenvolvimento econômico do país, no modelo adotado pelos países escandinavos. "A nossa sugestão é usar o petróleo para fazer a transformação da economia brasileira. Isso pode representar um salto de desenvolvimento para o país", afirmou.

Segundo ele, as brigas por conta da áreas são "quase insuperáveis". "Todo mundo quer os recursos para esse novo mundo do petróleo. Querem para a educação, saúde, previdência e até para construir submarino."

Velloso explica que o modelo escandinavo não tem relação direta com o regime de petróleo da Noruega, que obriga que as empresas privadas paguem imposto de 78% sobre o lucro. Os países escandinavos, detentores dos mais altos níveis de renda per capita do mundo, usaram os recursos do petróleo como investimento em outros segmentos da economia.

"Através da ciência, da tecnologia e do conhecimento, eles hoje estão exportando aviões e carros de luxo. Temos que passar dos recursos naturais para as tecnologias avançadas", disse o ex-ministro. Tal política evita ainda que o país dependa unicamente de recursos naturais para crescer.

Velloso lembrou que ainda não se sabe como serão obtidos os recursos para os investimentos necessários, estimados em até R$ 600 milhões, e pediu que a Petrobras participe da exploração da área com prioridade nos campos já licitados.