Título: Serra critica política econômica do governo Lula
Autor: Grabois, Ana Paula; Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2008, Política, p. A9
Sem participar ativamente da eleição municipal de São Paulo, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), optou por fóruns em que possa expor publicamente suas críticas à política econômica do governo federal. Ontem, Serra abriu a edição especial do Fórum Nacional, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e não poupou alfinetadas ao governo. No dia anterior, fez o mesmo em evento onde participaram outros presidenciáveis: a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o deputado federal (PPS-CE) Ciro Gomes e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB).
Embora negue ser candidato a presidente, Serra só falou de temas nacionais no BNDES. Ao tratar da administração do Estado de São Paulo durante apresentação sobre gestão pública, deu ênfase às dificuldades para aprovar financiamentos em razão do nível elevado de burocracia no país.
Para ele, o gasto público tem crescido além do devido e a Lei de Responsabilidade Fiscal deveria ser aplicada à União. A lei limita os gastos apenas de Estados e municípios. "Os gastos correntes têm se expandido exageradamente não só agora, mas nas projeções para o futuro", disse. Segundo Serra, para atender o crescimento projetado dos gastos correntes da União de 2002 a 2012, de 13%, as receitas precisariam subir 9% ao ano em termos reais.
O governador tucano ainda falou mal da atual situação das agências reguladoras. "O papel das agências foi degradado e elas foram loteadas por partidos, como a Anvisa", afirmou. Serra atacou a política de aumento de juros para conter a inflação considerando os juros "siderais", dificultando a realização de investimentos produtivos. "Há uma forte inconsistência na política macroeconômica", disse. Disse que o Brasil apresenta a segunda menor taxa de investimento em relação ao PIB entre os países da América Latina, acima apenas da Venezuela.
Ainda sobre o investimento, ressaltou que o déficit em conta-corrente tem financiado o consumo da população brasileira e não o investimento. "Essa é uma inconsistência que terá que ser vencida", disse. Ressaltou que mesmo sob condições externas favoráveis, o Brasil apresentou nos últimos anos taxas de crescimento econômico inferiores às registradas pelos países emergentes e da América Latina, ficando abaixo da média mundial.
Serra também criticou o rumo tomado pelo Mercosul. Segundo ele, o Brasil deve tentar se afastar da idéia do multilateralismo comercial e tentar acordos bilaterais. "O Brasil já é um país continental. Temos que fazer mudanças no Mercosul para permitir ao Brasil fazer acordos bilaterais sem necessariamente incluir outros países do bloco", ponderou, acrescentando que o bloco deve se transformar, de fato, em uma área de livre comércio e não permanecer como uma união alfandegária.
Mais tarde, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, rebateu. "Acho que essas queixas são mal informadas porque, na verdade, o sistema multilateral é muito importante para o Brasil", afirmou o chanceler, acrescentando que o fortalecimento do Mercosul também significa o fortalecimento da presença internacional brasileira.
Serra também bateu no caso dos grampos telefônicos e sugeriu a adoção de leis que limitem o uso dos grampos. O caso ocorrido no gabinete no ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, disse, revela a existência de um "poder paralelo que insulta a democracia e as instituições". (* Valor Online)