Título: Republicanos já admitem derrota na eleição legislativa
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2008, Internacional, p. A10
O Partido Republicano corre o risco de levar uma surra nas eleições legislativas que serão realizadas nos EUA neste ano, junto com a eleição presidencial em novembro. Seus adversários no Partido Democrata deverão ampliar de forma significativa a maioria que detêm desde que retomaram o controle do Congresso americano, há dois anos.
Estão em jogo desta vez todas as 435 cadeiras da Câmara de Deputados e 31 das 81 cadeiras do Senado. Com 235 deputados, os democratas têm hoje uma maioria confortável na Câmara. Mas no Senado cada partido tem 49 votos e os democratas só exercem a maioria porque dois senadores que não têm filiação partidária costumam se alinhar com eles nas votações.
Segundo o Relatório Político Cook, um boletim que acompanha de perto as eleições para o Congresso, os democratas têm boas chances de conquistar em novembro mais uma dúzia de cadeiras na Câmara e pelo menos cinco no Senado. No cenário mais favorável para o partido, sua bancada no Senado ganhará sete cadeiras e passará a ter 53 votos, de acordo com o boletim.
A meta dos democratas é mais ambiciosa. Eles querem 60 votos no Senado, o necessário para impedir que os republicanos continuem usando manobras regimentais para sabotar projetos da maioria, como têm feito nos últimos meses. Mas os especialistas acham difícil que os democratas consigam isso, mesmo com as condições favoráveis que a conjuntura atual oferece ao partido.
As pesquisas mostram que o prestígio do Congresso americano, que nunca foi grande coisa, diminuiu ainda mais depois que os democratas passaram a dar as cartas. Seus índices de aprovação atualmente são mais baixos que os do presidente George Bush, o mais impopular da história recente dos Estados Unidos.
Mas o cansaço do eleitorado com os republicanos é maior do que sua insatisfação com o Congresso e por isso os democratas têm boas chances nas eleições legislativas. Além disso, vários congressistas republicanos decidiram se aposentar neste ano, o que torna seus distritos eleitorais mais vulneráveis às investidas dos candidatos democratas.
Segundo pesquisa divulgada na semana passada pelo instituto Gallup e pelo jornal "USA Today", 51% dos eleitores pretendem votar em candidatos democratas para o Congresso e 42% prometem apoiar os republicanos.
Vários deputados e senadores republicanos que enfrentam dificuldades para se reeleger neste ano cancelaram sua participação na convenção nacional que vai confirmar nesta semana o senador John McCain como candidato do partido à Casa Branca. Eles acharam mais prudente continuar caçando votos nas suas bases eleitorais do que perder tempo na festa partidária.
Muitos republicanos parecem resignados diante desse quadro e têm deixado isso claro nos eventos paralelos à convenção. "Não estamos conseguindo vender nossas idéias", disse ontem o ex-senador Rick Santorum, que representava o Estado da Pensilvânia e perdeu a cadeira nas eleições de 2006. "A esquerda está cheia de dinheiro e não temos Hollywood ao nosso lado. Tudo que nos restou são as igrejas."
Intelectuais ligados ao partido acreditam que o problema é outro: a falta de idéias novas que voltem a conectar os republicanos com as aspirações da classe média americana. "O partido precisa oferecer respostas para a ansiedade econômica crescente dos trabalhadores, coisa que os democratas têm feito com muito mais sucesso", disse Rich Lowry, editor da revista "National Review", uma publicação influente entre os conservadores.
O americano médio continua se identificando com os valores tradicionais e outros pilares da cartilha republicana. Mas as pesquisas sugerem que os eleitores hoje em dia estão inclinados a aceitar um papel mais ativo do governo na economia, na esperança de que isso os ajude a enfrentar a insegurança criada pela atual crise econômica, o aumento da desigualdade de renda e a perda de competitividade de várias indústrias americanas.
Ao contrário do que se poderia imaginar, o entusiasmo que a candidatura do senador Barack Obama à Casa Branca despertou entre os democratas não parece ter muita influência nas chances dos democratas nas eleições para o Congresso. Em vários distritos onde a disputa está muito acirrada, os eleitores são bastante conservadores e, por isso, os candidatos democratas locais têm procurado se distanciar de Obama.
Em maio, numa eleição especial para preencher uma vaga aberta na bancada do Mississippi na Câmara, o democrata Travis Childers foi à televisão reclamar das "mentiras e ataques que me vinculam a políticos que não conheço e que nunca encontrei", depois que os republicanos tentaram associá-lo a Obama. Ele também lembrou que é contra o aborto e a favor das armas. Foi eleito com 54% dos votos.