Título: Deve o BC elevar as taxas de juros na próxima semana?
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Fonte: Valor Econômico, 04/09/2008, Opinião, p. A12

A aproximação da reunião do Comitê de Política Monetária, marcada para o dia 10, reaviva o debate sobre a necessidade de nova elevação das taxas de juros, mantendo-se o movimento iniciado em abril. Desde então, o Banco Central já elevou a taxa Selic em 175 pontos base - a taxa básica saiu de 11,25% para 13% ao ano. Segundo as últimas indicações sobre o que pensam os diretores do BC, divulgadas nas atas do Copom, e pelo que acredita a maioria do mercado financeiro, as autoridades monetárias devem continuar aumentando os juros não apenas no próximo encontro, mas também nos dois seguintes (os últimos de 2008) porque estão convencidos de que uma flexibilidade maior no combate à inflação agora só vai trazer mais prejuízos ao país.

Essa avaliação recebeu o endosso de uma pesquisa inédita, divulgada pelo Valor na sua edição do dia 27 último, elaborada pelo economista Fábio Susteras. Segundo ele, a utilização de recursos em toda a economia está em níveis elevados, mostra forte correlação com a trajetória da inflação, anulando o efeito positivo sobre a inflação da queda recente dos preços de commodities. Ele criou um índice para medir uma espécie de nível de utilização da capacidade instalada para toda a economia, que atingiu 86,8% no segundo trimestre deste ano, o segundo mais elevado da série depois dos 87,6% atingidos no quarto trimestre de 2007.

Outro fator de grande relevância na equação dos juros é o impacto dos movimentos recentes dos preços das commodities, em especial do petróleo. Embora continuem em patamares historicamente muito elevados, as cotações desses produtos caíram bastante nas últimas semanas, como resultado do resfriamento da economia dos países desenvolvidos. Nesta semana, o preço do aço está começando a enfraquecer ao redor do mundo, com quedas que chegam a 30%, num sinal de que pela primeira vez o produto está seguindo o caminho de outras commodities . Fabricantes de automóveis e eletrodomésticos e construtoras têm usado menos aço devido ao desaquecimento da economia mundial. Se a tendência continuar, os preços de outras matérias-primas usadas para fazer aço, especialmente o minério de ferro e certos tipos de carvão, provavelmente cairão.

Na visão de setores importantes do governo, ainda é muito cedo para se medir o impacto dessas quedas sobre os índices de inflação no Brasil e até mesmo se elas vieram para ficar. Teoricamente, haveria um ganho importante para o combate à inflação. Mas como as commodities têm um forte peso nas exportações brasileiras, e graças a elas o Brasil tem ainda um superávit na balança comercial, não se descarta um impacto sobre o câmbio decorrente da desvalorização dessas matérias-primas. A tendência de elevação gradual do dólar no mercado interno, coincidente com a redução do superávit comercial, já vem sendo observada. Ontem, em sua quinta alta consecutiva, o dólar subiu 0,72%. Nesse período, acumulou valorização de 3,39%, e do início de agosto para cá, de 7,29%. Ou seja, o impacto positivo da redução de custos para os setores que usam insumos como metais e derivados de petróleo poderá ser reduzido ou anulado pelo câmbio.

Por outro lado, o Copom terá que levar em conta o fato de que os índices de inflação estão mostrando desaceleração expressiva nas últimas semanas. Os itens que tiveram maior impacto na desaceleração inflacionária recente foram exatamente os que tinham subido mais anteriormente, os preços dos produtos alimentícios. Como se pode observar pela evolução dos produtos que compõem a cesta básica do Dieese. Em agosto, estes indicadores caíram em 15 das 16 capitais pesquisadas.

A questão é que ao governo têm chegado fortes indicações de que empresários de vários setores se preparam para corrigir preços e repassar custos represados. Uma demanda muito aquecida abre espaço para esses reajustes, bem como para movimentos por reposições salariais acima da inflação. Este é um risco que o BC precisa evitar, considerando que o pior impacto de novas altas da Selic, o custo maior do crédito para o setor produtivo e consumo, já aconteceu e está refletido nas atuais taxas de juros do mercado. Essas taxas já subiram na expectativa das futuras correções da Selic e nem por isso caiu o ritmo de concessão de crédito e de expansão da economia. Não, ainda.