Título: Vale nega reajuste linear de 20% nos seus contratos
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2008, Empresas, p. B6
Nos últimos dois meses, desde que a BHP e a Rio Tinto anunciaram reajuste para o minério de ferro australiano de 80% a 96%, índices acima dos 65% e 71% obtidos pela Companhia Vale do Rio Doce, a mineradora brasileira mantém negociações com as siderúrgicas buscando melhorar as condições comerciais da venda de minério, como o acerto de aumentos pontuais do produto. Esse movimento foi destacado ontem em relatório do Credit Suisse, que teve como base informação divulgada pelo Steel Business Briefing, especializado no setor que teve acesso a e-mail da companhia à um cliente chinês.
O e-mail tratava de um aumento extra de 20% no preço do minério da companhia, que entraria em vigor a partir de 1º de setembro. O percentual seria calculado sobre os preços do minério (US$ 50,00) vigentes em 2007. Em nota, a mineradora disse que "desconhece reajuste de 20% para o minério de ferro, conforme rumores observados no mercado". A Vale explicou que o esclarecimento foi feito a pedido da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A companhia , porém, admite na nota que "mantém permanente diálogo com seus clientes, buscando a negociação, em termos mutuamente satisfatórios, de condições comerciais, envolvendo entre outros fatores qualidade, volumes e prazos de fornecimento".
O diretor executivo de ferrosos da Vale, José Carlos Martins, negou o aumento de 20%, mas confirmou que a mineradora tem feito negociações pontuais com seus clientes "envolvendo aumentos aqui ou ali do produto, mas nada que passe por 20%". Martins salientou que esta é uma prática usual entre a Vale e seus clientes no caso de renovação de contratos de longo prazo e de novos contratos. Mas, destacou, que por tratar-se de uma negociação privada ela é "confidencial". "Nós estamos sempre negociando melhorias de novas condições comerciais, mas desmentimos este 20%. Isto não é generalizado e não procede. Não vou me manifestar sobre isto", disse Martins.
O relatório do Credit Suisse destaca que se for confirmado o aumento extra do minério, o lucro de 2009 da companhia poderá subir 6%. Na opinião do banco suíço, o minério da Vale merece prêmio justo por sua qualidade. Segundo os analistas do Credit Suisse, Roger Downey, Ivan Fadel e Leonardo Corrêa, o minério da Vale está extremamente demandado para ser misturado com os minérios de baixa qualidade, como o chinês. Do ponto de vista de fontes do mercado financeiro, este deve ter sido o argumento fundamental da Vale nessas conversas com os clientes na busca de um preço mais competitivo para seu produto.
O executivo da Vale enfatizou que continua defendendo uma negociação de preço anual entre consumidores e produtores de minério. "Vamos continuar negociando com nossos clientes como sempre fizemos. Não posso falar pelos australianos (BHP e Rio Tinto), pois eles têm uma diferença de frete, o que não temos". Martins destacou que o sistema anual de negociação de preço está previsto nas duas centenas de contratos de longo prazo que a mineradora tem com as siderúrgicas. "Queremos atuar sem volatilidade de preços, com base num preço que vigore durante um ano. Se é baixo ou alto é resultado de uma negociação que tem como base o mercado de minério. A Vale acha que seus clientes também preferem ficar neste sistema".