Título: Em busca da trégua
Autor: Cotias, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2008, Investimentos, p. D1

Após três meses consecutivos de quedas brutais em papéis de peso do índice Bovespa (Ibovespa), é nas "celebridades" da bolsa que estão as principais indicações para a Carteira Valor de setembro. Ainda que o cenário internacional siga conturbado, a percepção é de que, com o fim das férias de verão no Hemisfério Norte, o fluxo estrangeiro deve começar a dar o ar da graça por aqui em busca de ações que estejam com preços convidativos. No mix estão alternativas relacionadas à cadeia de commodities com ativos de empresas mais diretamente expostas à dinâmica da economia interna.

O rol das eleitas é puxado pelas preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras, com 7 recomendações, seguidas pelas ordinárias (ON, com voto) da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), com 6, além de Vale PNA e Gerdau PN, com 3 menções cada. O pelotão relacionado ao mercado interno vem representado por Bradesco PN, Itaúsa PN, Copel PNB, Weg ON e AES Tietê PN, todas com 2 indicações. Usiminas PNA, com 1 voto, fecha a lista "top 10" pelo critério liquidez.

Mesmo com o suspense sobre a exploração de petróleo na camada do pré-sal e a eventual criação de uma nova estatal, batizada informalmente de Petrosal, Petrobras PN manteve o seu lugar de destaque nas indicações das corretoras. Como o tema é tecnicamente complexo e depende de mudanças na Lei do Petróleo, a percepção é de que as discussões vão se arrastar, diz o estrategista de pessoa física da Itaú Corretora, Fábio Anderaos de Araújo. Nesse meio tempo, ele espera que alguns fundamentos comecem a falar mais alto, como a estabilização dos preços do petróleo no mercado internacional e aumentos de produção da estatal no decorrer do semestre. A corretora tem um preço alvo de R$ 61,00 para a ação, um potencial de valorização e tanto, de 78%, em relação ao fechamento de ontem na Bovespa, a R$ 34,21.

A expectativa é de que a comissão interministerial que discute mudanças no marco regulatório do petróleo traga alguma sinalização sobre que caminho tomar no dia 19. E é em cima desse evento que as ações da Petrobras vão reagir ou não, diz o analista da SLW Corretora Pedro Galdi. "O investidor estrangeiro não volta para o papel enquanto não houver uma definição", afirma. Uma das alternativas mais razoáveis na mesa de negociações seria a União abrir mão das reservas no entorno das atuais descobertas em troca de novas ações da petrolífera. Para o chefe de análise da Concórdia Corretora, Eduardo Kondo, há sinais de que o discurso no governo em relação ao processo está mudando, podendo haver um desfecho mais aprazível ao mercado.