Título: Para próximo Copom, consenso é de 100% em nova alta de 0,75 ponto
Autor: Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2008, Finanças, p. C2

Marisa Cauduro / Valor Marcelo Ribeiro, da Pentágono Asset: "O novo vilão é o câmbio" É maciço e absoluto o consenso do mercado de que o Copom do Banco Central irá ignorar o declínio da inflação corrente e manter, na reunião da próxima quarta-feira, a velocidade de alta da taxa Selic. No encontro passado, dia 23 de julho, o Comitê acelerou o ritmo de alta subindo o juro em 0,75 ponto, depois de ter aplicado dois aumentos de 0,50 ponto. Esse novo ritmo de 0,75 ponto pegou de surpresa os economistas de bancos, que esperavam a preservação do compasso de 0,50 ponto. Os tesoureiros de bancos, que fecham negócios no mercado futuro de juros da BM&F, não se surpreenderam com a decisão de elevar a taxa de 12,25% para 13%. Desta vez, todos concordam com o prognóstico de que o juro será elevado para 13,75%. O Valor ouviu ontem 14 analistas e todos descartaram um recuo da sinalização do BC de que irá manter o rigor. E, se houver alguma surpresa, será no sentido costumeiro, o de mais uma intensificação do movimento, com alta de um ponto, agora por causa das incertezas que vêm provocando fortes arrancadas do dólar.

Embora o BC insista no argumento de que as alegações em prol de uma flexibilização - queda das commodities e primeiros sinais de desaquecimento da economia brasileira - são muito incipientes, na opinião do economista Marcelo Ribeiro, da Pentágono Asset, ele terá de subir o juro mas por outra razão, talvez até mais "tempestiva" que as anteriores. Trata-se da valorização do dólar. "Essa alta parece que veio para ficar. A moeda deve enfraquecer entre a eleição e a posse do novo presidente dos EUA, mas, depois, é para cima e avante. Acho que o BC vai elevar a Selic em 0,75 ponto, mas vai alegar os motivos errados. Vão voltar com aquela ladainha sobre demanda aquecida e commodities mas sabem que no fundo o vilão é o câmbio", diz Ribeiro. Mas um esforço monetário adicional pode ser inútil. "Por mais que aumentem os juros, as carry-trades estão muito arriscadas, mesmo com o retorno elevado", diz o economista.

A maioria dos analistas de instituições que sustenta a projeção de alta de 0,75 ponto parece ter combinado o discurso segundo o qual, com exceção da pesada queda da inflação corrente - como se isso fosse pouca coisa - , todas as demais preocupações listadas na última ata do Copom não permitem uma flexibilização monetária, por menor que seja. A principal delas é o desequilíbrio entre oferta e demanda. Para a maior parte dos analistas, os últimos dados sobre o nível de atividade econômica e vendas varejistas corroboram a inquietação oficial acerca de um excesso de demanda.

Alguns economistas, para reforçar a argumento em prol da manutenção do ritmo de 0,75 ponto, agregam a idéia de que a economia ainda não manifestou a tendência ao desaquecimento perseguida pelo BC porque ainda haveria algum efeito defasado do estímulo de crescimento aplicado pelo ciclo anterior de afrouxamento. Este teve início em setembro de 2005, quando a Selic estava em 19,75%, e se encerrou dois anos depois, com a taxa em 11,25%. A economia fatalmente irá mostrar os sinais de fraqueza desejados pelo BC assim que o aperto atual começar a fazer efeito. Aparentemente, eles não percebem que esse argumento reforça justamente a necessidade de diminuição da magnitude de alta da Selic. Se a economia está perdendo o incentivo à expansão justamente num momento em que começará a sentir o impacto contracionista, já estaria mais do que na hora de descomprimir a pressão monetária. Se isso não for feito, o desaquecimento poderá ser mais forte do que o imaginado. Para a economia, isso seria péssimo. Para o BC, nem tanto, já que, se for para errar, que seja por excesso de conservadorismo monetário, nunca por desleixo.

Para outros economistas, a forte queda no preço das commodities ainda não tem uma consistência tranqüilizadora. Há muitas incertezas sobre o prosseguimento ou não do movimento de refluxo das cotações, bom para a diminuição dos preços internos dos alimentos, mas ruim do ponto de vista da valorização do dólar. Mas não passa pela cabeça deles a sugestão de que, enquanto durarem tais indefinições, seria mais lógico e prudente suspender o ciclo de alta da Selic para se proceder a uma avaliação mais acurada, do que pisar no acelerador.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, diz que o foco central das atenções do BC é a demanda. Se as commodities sobem ou caem não representam o cerne da discussão para o Copom. "Se elas não foram a razão de preocupação quando estavam subindo como subiram, por que seriam agora que estão caindo?", indaga Vale. Para o economista, ao ater-se à demanda, o BC está cercado de boas razões. Ele tem hoje mais justificativas pelo lado da demanda do que em julho para amparar nova dose de 0,75 ponto.

Também para o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, da SLW Asset, o cenário que o BC desenhou para explicar a aceleração da taxa ainda se mantém. "Mesmo que haja um alívio nos indicadores de curto prazo , o BC não vai levar a volatilidade das commodities para a Selic", diz Freitas Gomes.