Título: Para Demóstenes, foco da PF é participação da Abin
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2008, Política, p. A8

Depois de prestar depoimento aos delegados da Polícia Federal que investigam as denúncias de grampos clandestinos contra autoridades dos três Poderes, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse ontem acreditar que a principal linha de investigação da PF seja considerar que as escutas telefônicas tenham sido realizadas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O senador afirmou que, apesar de os delegados trabalharem com outras hipóteses, têm como "foco principal" a denúncia de que a Abin realizou os grampos.

Os delegados Rômulo Berredo e William Morad, responsáveis pelo inquérito dos grampos, ouviram Demóstenes em seu gabinete por uma hora e meia, a portas fechadas. Os dois deixaram as dependências do Senado sem falar com a imprensa.

Durante o depoimento, um dos delegados teria dito ao senador que uma das hipóteses mais prováveis é de que o grampo tenha sido feito no celular do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, por agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) desviados da Operação Satiaghara da PF. "Pelas circunstâncias do telefonema é mais provável que o ministro Gilmar estivesse sendo monitorado indevidamente", confirmou o senador, após seu depoimento.

A expectativa é de que a investigação da PF seja concluída dentro de 30 a 60 dias. De acordo com o delegado, a Polícia Federal não descarta a possibilidade de empresas de telefonia ou outras pessoas terem feito o grampo ilegal, mas as suspeitas maiores recaem hoje sob agentes da Abin, que teriam "uma relação promíscua" com funcionários da PF. "O foco principal é que eles contam mesmo com essa possibilidade inicial de ter sido algum espião absolutamente desviado de suas funções dentro da Abin", disse o senador.

Depois do depoimento, a PF aproveitou para fazer uma perícia nos telefones do gabinete de Demóstenes. Em seguida, uma equipe foi para a central telefônica do Senado para concluir a checagem. Segundo Demóstenes, o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), autorizou a PF a fazer perícias no sistema telefônico da Casa. "Eles já fizeram o serviço aqui e vão voltar a meu pedido. As portas foram abertas à Polícia Federal", disse.

O senador se colocou à disposição para prestar esclarecimentos à CPI dos Grampos da Câmara. Mas disse que só irá comparecer se o presidente do Supremo também estiver presente: "Se o Gilmar Mendes for, eu vou com prazer".

Na tarde de ontem, porém, a assessoria do ministro Gilmar Mendes informou que ele não pretende comparecer à reunião da CPI dos Grampos (ver reportagem nesta página). A idéia dos parlamentares era realizar uma audiência pública reunindo comissões da Câmara e do Senado. (Com agências noticiosas)