Título: Genro afasta hipótese de ação institucional da Abin
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2008, Política, p. A9

O governo afastou ontem a hipótese de a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ter agido institucionalmente no episódio do grampo ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Ontem, ao explicar as três linhas de investigação abertas pela Polícia Federal, o ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que a primeira consiste na suspeita de que uma empresa privada tenha sido contratada para fazer a escuta por alguém de "alguma instituição".

Outra hipótese é de que um funcionário da Abin tenha feito a escuta, em desvio de conduta. Segundo Genro, que reuniu-se ontem com o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, ainda existe a suspeita de que "alguém de alguma agência tenha feito contato para fora" com o objetivo de criar instabilidade política.

O ministro considerou que houve "ousadia, desaforo e petulância" por quem grampeou o presidente do STF. "Pelas prerrogativas, pelo foro que tem, pela importância que tem no país, ele jamais poderia ter sofrido esse tipo de violência, de ataque", afirmou, após participar de debate sobre a necessidade do fortalecimento das instituições políticas promovido pelo Fórum Nacional do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae).

O líder da oposição no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM), que participava da mesa, cobrou providências do governo na apuração do caso. Para ele, a suspeita do envolvimento de integrantes da Abin nas escutas mostra o risco da agência passar a ser uma "SS sem Hitler".

"Não quero um Brasil com Hitler e um Brasil com SS", frisou Virgílio, em referência à polícia política do estado nazista alemão. "O compromisso da oposição é não conspirar e o compromisso do governo é respeitar a democracia", disse Virgílio, que defendeu ainda a demissão do diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, afastado do cargo. Também pediu a instalação de uma CPI no Senado sobre o episódio. Para Virgílio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria cobrar a apuração do caso. "Uma agência que grampeia o presidente do Supremo está colocando sob ataque especulativo a democracia brasileira", disse.

Para Genro, o senador tucano apenas manifestou uma preocupação de "todo democrata" ao citar a SS. "A Abin é originária do SNI, sofreu uma reforma jurídica, institucional e legal, mas esta transição é lenta, tem que haver uma mudança de cultura, de procedimento", disse Genro. Para o ministro, caso confirmada a autoria da Abin, é "bem provável" que isso seja um ranço do Serviço Nacional de Informação (SNI), criado no regime militar e extinto no governo Collor. (* Valor Online)