Título: Jobim diz não ter nada a dizer sobre grampos
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2008, Política, p. A9

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou ontem que outros órgãos de governo, além do Ministério da Defesa, utilizam-se de um braço do Exército brasileiro no exterior para adquirir aparelhos e equipamentos mais baratos que os similares nacionais. Esse "braço" tem sede em Washington e chama-se Comissão do Exército Brasileiro em Washington (CEBW). "Quando autorizado pelo ministro da Defesa, o Exército utiliza essa comissão para comprar os equipamentos e aparelhos de que necessita".

Jobim ressaltou que outras áreas do governo recorrem à CEBW por conta da vasta experiência do grupo. "No caso das aquisições feitas pela Abin, são compras feitas pelo Gabinete de Segurança Institucional", concluiu Jobim. O ministro da Defesa declarou que sua participação durante a reunião da coordenação política, na qual disse que a Abin tinha adquirido maletas que permitem realizar escutas telefônicas, foi entregar ao presidente da República uma lista com os instrumentos, a relação dos aparelhos que foram adquiridos pela agência. "Só isso", garantiu.

Em depoimento à CPI dos Grampos, o general Jorge Armando Felix, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), negou que os equipamentos pudessem fazer escutas, limitando-se a fazer apenas varreduras. Jobim discorda, e esta divergência criou um certo constrangimento no governo. "Na relação dos aparelhos adquiridos pela Abin, há alguns que têm essa característica, de fazer interceptação telefônica. Outros não têm, simplesmente são capazes de fazer uma varredura", complementou.

Assessores próximos do presidente Luiz Inácio da Silva não consideram estranha a participação do ministro Jobim no caso. Ele é muito amigo do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, considerado o principal atingido pela atual crise do grampo, e também ocupou a mesma função de Mendes, não havendo garantias de que também não tenha sido grampeado.

No Congresso, a CPI aprovou a convocação de Jobim, do diretor afastado da Abin Paulo Lacerda e do diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. Tanto Lacerda quanto Jobim confirmaram presença. Convidado, o presidente do Supremo não deve comparecer. O ministro Jobim alertou que não terá muito a acrescentar. "Eu não tenho depoimento a prestar, porque eu não conheço nada do assunto. O que eu vou dizer no Congresso? Não tenho nada a dizer sobre quem grampeou ou deixou de grampear. Mas eu vou lá, evidentemente".

Lacerda, que desde seu afastamento na segunda-feira está lotado no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, também demonstrou disposição para ajudar no inquérito aberto pela Polícia Federal. "Eu estou confiante de que o fato será esclarecido, sem dúvida. A Polícia Federal tem toda a condição de esclarecer. É o que a gente espera", acrescentou.

O ex-diretor da Abin confirmou ter conversado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos dias e afirmou que o presidente comunga do desejo de ver tudo esclarecido o mais rapidamente possível. (Com agências noticiosas)